"Formação econômica do Brasil" é uma dessas leituras obrigatórias para o brasileiro pensante que quer entender o país.
É claro que, ao longo das cinco décadas que nos separam da publicação desse trabalho, muitas das teorias de Celso Furtado tornaram-se defasadas ou foram contestadas (processo previsível e salutar, até porque, ele trabalhou com dados hoje superados).
Mas Furtado tem o mérito de ter endereçado velhas questões de desenvolvimento da economia nacional com ideias arrojadas; pode ter errado em algumas análises e projeções, mas errou porque tentou, porque ousou pensar diferente; e da crítica às suas concepções supostamente equivocadas, muito conhecimento se produziu - até os seus enganos foram férteis para o entendimento do Brasil.
Demais, eu gostei do estilo como o trabalho foi escrito. Os primeiros capítulos dão a sensação de que estamos lendo uma narrativa e não um compêndio de economia. Furtado tem um quê na escrita que me lembra Hobsbawm, ambos são estudiosos que se debruçam sobre temas muitas vezes espinhosos mas escrevem com uma bossa e uma clareza capazes de atrair os não iniciados no assunto (como é o meu caso). Sabem alternar a informação bruta e o "causo" interessante.
Foi um tempo de leitura muito bem empregado, investimento pingue de retornos. Até meu modo de escrever sofreu influências furtadianas... passados cinquenta anos, muitas das expressões que ele utiliza tomaram um ar de "tempo do onça"; ou, no dizer dos moderninhos, um ar "vintage", que, no entanto, é do meu agrado.
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