sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

Um encontro

As linhas seguintes fogem à proposta deste blog de ser uma análise de leituras. Trata-se de crônica de um encontro que se passou no 21 de janeiro de 2010. Como os blogs fazem as vezes de diários virtuais, creio que não há nada demais em querer deixar registrado esse dia tão prosaico e ao mesmo tempo tão especial, quando, à uma mesa do restaurante do Jockey Club, à hora do almoço, sentaram-se duas pessoas que eu tencionava reunir já há algum tempo.

De um lado, Feliks Zalcman, analista de sistemas da Petrobras que há mais de quatro décadas se dedica à informática na petrolífera brasileira, protagonizando alguns de seus momentos decisivos. Nascido no ano de 1941 em Iecaterimburgo, cidade russa que no passado soviético chamou-se Sverdlovsk, migrou com a família para o Brasil no ano de 1960, fugindo à perseguição política – seu pai, que chegou a ser uma liderança no Partido Comunista, tornara-se um dia um dissidente.

Conheci Feliks por conta de atividades profissionais; trabalhando na área de comunicação da unidade de Tecnologia da Informação e Telecomunicações, fiz dele um perfil para divulgação num veículo de mídia interno em novembro de 2009. Foram quatro dias de entrevistas, ao longo dos quais me tornei uma fã de seu trabalho e personalidade.

Do outro lado da mesa, Luiz Carlos Ribeiro Prestes, que atua na área de desenvolvimento econômico do Governo do Estado do Rio de Janeiro. Carioca, nascido em 1959 no bairro de Jacarepaguá, migrou com a família para a União Soviética no ano de 1970 devido à perseguição política – seu pai, Luiz Carlos Prestes, liderança no Partido Comunista Brasileiro, tornara-se um clandestino desde o golpe de 1964.

Conheci Luiz Carlos por conta de atividades profissionais; trabalhando no Centro de Referência em Inteligência Empresarial da Coppe/UFRJ, fui designada para entrevistá-lo quando do lançamento do livro “Cadeia Produtiva da Economia da Música”, em dezembro de 2004. Foi uma tarde inteira de entrevista e, insuspeitadamente àquela época, alguns anos mais tarde viria a me tornar sua mulher e mãe orgulhosa de sua filha caçula, Melinda Prestes.

Os ásperos das divergências ideológicas ficam de lado. Em seu lugar, despontam as memórias identitárias, o sem número de referências culturais comuns - poéticas, musicais, midiáticas, políticas. Alguns nomes raramente conhecidos do lado de cá do globo. O repertório de piadas, em especial, produz (hilária) identidade...

Lamento não ter registrado em imagem aquela tarde clara, a luz imensa de janeiro do Rio vencendo o voal das cortinas. Mas talvez tenha sido melhor assim; talvez não fosse tão belo ou tão relevante para o resto do mundo virtual o semblante tranquilo daqueles dois presentes. A intimidade dos significados dentro de uma alma, no fim das contas, nunca pode ser de fato devassada.

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