domingo, 22 de agosto de 2010

Toni e eu

Lá estava eu, à 1h da manhã, arrastando a leitura de “Sociedade do Espetáculo”, de Guy Debord, que faz parte da bibliografia do mestrado que pretendo realizar.

Sim, arrastando, porque eu confesso que a linguagem fragmentária, por vezes deliberadamente enigmática, linguagem-código de Debord – que assume isso algumas páginas depois – foi me dando um sono danado.

Eis que chego a uma parte do livro que na verdade é o prefácio escrito pelo filósofo para a edição italiana, e a linguagem desabrida, sem papas na língua, me despertou.

Leio pela primeira vez sobre o sequestro e morte de Aldo Moro.

Aldo Moro, Aldo Moro, Aldo Moro, nunca ouvi falar.

No dia seguinte – hoje – decidi pesquisar quem foi Aldo Moro na internet.

Primeiro, me chamou a atenção que tenha sido assassinado em 9/5, data de nascimento da minha filha mais velha. Depois, nova surpresinha: foi sequestrado na mesma data do meu aniversário, exatos quatro anos antes de eu nascer.

Sabe essas coincidências bobas mas que te chamam a atenção? “Que coisa!”.

E aí veio a informação que realmente me tirou o fôlego.

Um dos acusados de tramar o sequestro e assassinato de Aldo Moro simplesmente foi... Antônio Negri.

Isso mesmo, Negri, autor de “O Império”.

O “Toni”, o simpático senhor que conheci em 2005 quando, em visita ao Brasil, ele ia realizar uma palestra no Gustavo Capanema, centro do Rio de Janeiro.

Eu estava na faculdade, colaborando para o projeto do site TJ.UFRJ. Júlia Salgado de câmera na mão, eu de microfone em punho, e perguntando ao Negri qual o papel do intelectual hoje...

...minha primeira entrevista internacional... e Io no parlo italiano... e ele não parlava inglês...

E eu que olhei aquele senhor de pele curtida e cabelos brancos e jamais imaginei que passara os últimos anos preso, e que tivera uma vida para lá de movimentada, uma vida que eu não vejo na maior parte dos ditos intelectuais brasileiros.

Nossos intelectuais de muita saliva e pouco suor, de cujo habitus sou meu tanto herdeira, para minha infelicidade e frustração...

Que coisa!

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