segunda-feira, 21 de julho de 2008

Uma entrevista

Trabalhava numa assessoria de imprensa em moda. Mas a combinação trabalho informal + empresa pequena + clientes ameaçando debandar não estava caindo muito bem. O próprio chefe, num gesto raro de generosidade, havia alertado sobre a situação e dito: "se você quiser procurar um emprego melhor, não hesite... Sei dos seus compromissos, não poderia te impedir". Assim começou o garimpo por oportunidades, os contatos com amigos, conhecidos, ex-chefes, colegas de faculdade, enfim, o investimento no famoso network...

Foi durante um coffee break da pós que se deu a investida mais auspiciosa: numa rodinha de bate-papo, uma explicação breve sobre a situação da empresa e, com um ar blasé-mas-nem-tanto, disse que estava buscando uma recolocação profissional – modo sutil de dizer "gente, eu preciso de um emprego!".

Houve aqueles que não deram muita bola, entretidos em elucubrações sobre a textura do pão de queijo. Outros se limitaram a uma função fática básica: "poxa, a sua empresa está ruim é? Que coisa, menina...". Antes que suspirasse com aquela cara de "foi em vão", porém, uma amiga com a qual já havia realizado alguns trabalhos do curso disse as palavras mágicas: "que coincidência, está para pintar uma vaga na área em que eu estou trabalhando. Manda o seu currículo para mim nessa semana".

Dito e feito. A conversa se passou num sábado. Na segunda-feira, foi enviado o currículo, impecável. Quinta-feira, no meio do expediente na assessoria, a amiga liga no celular.

- Você pode vir conversar com o meu gerente hoje? Eu passei seu currículo para ele, e agora no fim da tarde ele vai ter um tempinho, quer conversar com você.

Num breve relance, a reflexão sobre o modo como estava vestida. Sandálias rasteiríssimas, calça jeans terminando um palmo abaixo do umbigo, mini-blusa começando um palmo acima, e um rabo-de-cavalo desses que se usa na quarta-série (bem, era uma assessoria sem muitas convenções ou exigências para quem trabalhava internamente).

- Como assim, Adriana? Eu estou no meio do trabalho, não tem condições de eu conversar com ele hoje!

- E amanhã, pode ser?

- Hum... claro, claro que pode! [Melhor não embromar muito...]

Ali começou o corre-corre desvairado pelos shoppings da cidade para montar o figurino completo, digno das receitas de bolo estampadas nas páginas da "Você S.A" e "Vida Executiva".
                                                                                     ***
Sexta-feira, 10h da manhã, a chegada ao hall do prédio onde seria realizada a entrevista, o Edifício Sede da companhia, centro do Rio de Janeiro. Terno preto, camisa branca, um par de scarpins estalando de novos, brincos de pérola, unhas feitas, perfume suave, maquiagem discreta, cabelos cortados acima dos ombros – só não havia feito escova porque, ora, porque nunca havia feito escova, e destruir os cachos já seria um pouco demais. Alguma coisa tinha de estar espontânea naquele momento...

Estava inacreditavelmente calma ao entrar na sala onde a entrevista seria realizada. Pessoas trabalhando, concentradas em suas máquinas, clima de tranqüilidade. Aquele que poderia vir a ser o futuro chefe se apresentou, convidou para sentar e começou uma conversa amena, antes das perguntas sobre o currículo.

"Por que uma pós em gestão do conhecimento e não em marketing?" "Você fala inglês bem? Fluente?" "Trabalhou no IPPMG, filha? [IPPMG, para quem não conhece, é o segundo maior hospital da UFRJ, voltado à pediatria]. Eu trabalhei no IPPMG antes de entrar na Petrobras! Olha só que coincidência!".

[Suspiro. Coincidência, isso é bom sinal? É? É bom sinal? Tomara que sim].

Finalmente, a hora do pulo do gato. "Filha, gostei muito do seu currículo, mas para te contratar eu precisaria ler alguma coisa que você escreveu". Sem problemas! Um rápido acesso à Internet em um dos computadores disponíveis na sala e, voi-là, saíram quentes da impressora as páginas com alguns dos textos da época em que escrevia matérias sobre inteligência empresarial para um website.

Ele não demorou mais que um minuto lendo provavelmente dois ou três parágrafos dos textos. Levantou os olhos e disse de chofre: "pois é, filha, não tem o que discutir, você está contratada. Começa na segunda-feira. Você é recém-formada, então o seu salário...".

Talvez ele tenha achado um pouco estranho a cara de completa abobalhada da moça que até aquele momento lhe parecera tão sisuda e segura de si. Ou talvez estivesse acostumado com aquilo e gostasse de ver a reação dos entrevistados ao receberem um "você está contratado" assim, de supetão. Mais tarde, descobriria que ele adorava ver a reação das pessoas diante de convites como "filha, você vai ter de fazer um passeio de helicóptero para conhecer uma plataforma. Algum problema em voar de helicóptero?".

(Descobriria também que todo o investimento no visual e na postura havia valido a pena. O gerente levava muito a sério esse valor intangível que tem a imagem de um profissional, uma equipe, uma organização. Inadmissível que um coordenador sob sua gerência fosse a uma reunião com uma caneta bic pendurada no bolso da camisa. E teve aquela vez em que desistiu de contratar uma consultora que, apesar do currículo reluzente, insistira em ir à entrevista mascando ruidosamente um chiclete).
                                                                                    ***
Ao sair do prédio, flutuava; sequer sentia o salto do scarpin se destruindo nas pedras portuguesas das calçadas do centro da cidade (como é difícil ser elegante na Cidade Maravilhosa, onde tudo conspira para o despojamento...).

Flutuava, sim. É que a vida vinha muito difícil. Tinha o medo que muitos estudantes universitários têm de concluir a faculdade e passar meses, um ano, dois até com o diploma debaixo do braço e sem exercer a profissão – o que, aliás, seria uma sorte ainda maior do que nunca chegar a exercê-la, desistir e terminar ficando no meio do caminho, assim pensava.

Para agravar o drama, diferentemente de muitos colegas da mesma idade – tinha 23 anos na época –, não estava vivendo na casa dos pais, sem preocupação em fazer mercado ou pagar contas. Já vivia sozinha, com a filhota que havia nascido ainda no tempo em que cursava a faculdade. Uma luta cuja história, prometo, conto noutra ocasião.

sexta-feira, 4 de abril de 2008

Juarez de Brito: Volante Irreverente de Conservatória
*Texto de Clarissa Alves Machado e Luiz Carlos Prestes Filho

Direção musical. Madrugada. A Van sai de Irajá, atravessa a Avenida Brasil, entra na Penha, pega gente; vai até os bairros do Leblon e Flamengo, pega mais gente. Já amanheceu. Faz rápida escala na Rodoviária Novo Rio, onde entram novos passageiros. Em Nova Iguaçu, sobem os últimos. Em seguida, vai direto a Conservatória, Capital Brasileira das Serestas e Serenatas, com direito a esticar as pernas na Parada Modelo, que fica logo após o pedágio na Rodovia Presidente Dutra.

No volante, Juarez de Brito, proprietário da Van: "Foi no início de 1978 que conheci Conservatória, e depois disso a cidade nunca mais saiu da minha vida. Papai havia sido convidado pela Rede Globo para gravar uma matéria especial, a idéia era mostrar Guilherme de Brito entre os Seresteiros de Conservatória, e eu fui o responsável pelo transporte dele até lá. Papai só confiava na minha direção, não aceitou ir noutro carro. Lembro que enfrentamos uma estrada de chão batido e ficamos hospedados no Hotel Vila Real, do saudoso Seu Luis”.

Serenata. Foi naquela visita que o fundador do movimento da Serenata, José Borges, lhe disse: “menino, você tem de seguir os passos de seu pai’". Em Conservatória, após deixar os visitantes nos hotéis e pousadas, o "empresário de transporte", como é conhecido, se transforma em seresteiro: pega o seu violão e se une a Joubert, irmão de José Borges, que continua na liderança do movimento musical.

"Sinto saudade do tempo em que toda cidade se mobilizava em torno da serenata. A população local participava mesmo. Os violões iam até a Locomotiva, e quando se passava pelas janelas das casas, as pessoas ofereciam café. Uns, um café que nem tinta, outros, um café que parecia chá de batata, mas todos estavam na janela para acompanhar”, brinca um Juarez nostálgico. “Hoje, o Joubert e o Edgard são os grandes bastiões da Serenata. Mas temos que saber criar uma nova geração. Como sócio da União Brasileira de Compositores (UBC), entidade onde meu pai foi diretor, consegui apoio para comprar dezenas de violões para um projeto que idealizei, de formar jovens seresteiros. Quem sabe, em breve, pode dá certo?", pensa Juarez, que também participa e apóia outra iniciativa da UBC – o projeto VIVA O COMPOSITOR.

Irreverência. Para Sebastião Martinez, empresário local, a presença de Juarez na localidade encanta os turistas: "Primeiro pela lembrança de seu pai, lenda da MPB, parceiro de Nelson Cavaquinho; segundo, por conta das músicas e histórias irreverentes que ele conta nos cafés da manhã na minha pousada”, revela o dono da Pousada Martinez.

"Eu, irreverente?", pergunta rindo Juarez. Diz que somente conta para os presentes algumas passagens de sua vida, como a de uma entrevista de seu pai no rádio, quando foi questionado no ar: “Guilherme, você é famoso por ser sempre um cara muito honesto, correto, metódico, pontual. Você nunca fez nenhuma besteira na vida?", ao que Guilherme de Brito respondeu: "Fiz, sim. Meu filho."

Foi na Pousada Martinez, aliás, que um dos episódios mais inusitados de sua vida artística teve lugar... o qüiproquó aconteceu quando Juarez cantava uma “declaração de amor” muito peculiar, feita para sua esposa, chamada “Mulher Perfeita”:

Meu amor: salve este contracheque maravilhoso! Senha: 8832 (fala)/ Vou descrever uma mulher perfeita / Por coincidência vive ao meu lado / Rostinho cheio, cabelo aloirado / Papo no queixo e em outras partes mais/ No corpo inteiro leva só pelanca / Sua barriga não vou comentar / Na linda perna tem tanta varizes / Sinceramente eu acho indecente / Até parece o rio Amazonas / Acompanhado dos seus afluentes /Vive falando que vai na Socila / Nem ela mesma sabe por que vai / Quando se arruma põe tanta cinta / Toda família ajuda a apertar / Mas felizmente, ela é minha esposa / Tem uma filha e um filho moço / Pra quem há tempos comeu a carne, só resta agora resta roer o osso / Se ela morrer eu morro (fala).

Até que uma mulher, juíza aposentada, se levanta e, aos berros, parte para cima de Juarez:

- Essa sua canção que é uma aberração, é uma indecência! Você é uma coisa horrorosa, você é um típico homem brasileiro, você não respeita nem sua mãe, nem sua filha... não tem amor em você, seu cafajeste!

- Eu?! Mas... minha mulher está aqui ao meu lado... ela gosta e admira minha obra musical e o meu jeito de cantar! Quanta bravata a senhora está jogando para cima de mim!

- Eu vou processar você e estes seus amigos! Que horror, na cidade de canções românticas surgir um vagabundo assim!

- Peraí! A senhora pode não gostar da minha declaração de amor a minha mulher... mas eu sou trabalhador, eduquei meus filhos com o suor do meu trabalho. Peraí!

- Vou processar!!! Vou processar!!!

Memórias. Nascido e criado na favela de Ramos, Juarez sempre admirou e seguiu os passos do pai e da mãe, Dona Nena: "Papai era atento, não deixava eu e a minha irmã, Diana, ir para a escola nos dias em que a favela ficava cercada pela polícia ou quando os traficantes colocavam drogas nas mochilas das crianças para fazer chegar do outro lado da Avenida Brasil. Foi ele que me encaminhou para estudar música no Conservatório de Música de Ramos. Mas nossa família não tinha recursos para comprar um piano para eu estudar em casa. A solução que papai encontrou foi me presentear com um acordeon. Eu detestei! Na escola, a criançada chamava aquilo de piano de colo. Desmotivado, acabei tomando gosto pelo violão. Eu tinha dois tios que tocavam na rádio Roquete Pinto: o Waguinho, que tocava o de sete cordas, e o Álvaro, que tocava o de 6 cordas. Foi com eles que aprendi a tocar, por volta dos doze anos."

Documentos daqueles anos de infância estão expostos nas vitrines do Museu Guilherme de Brito, no centro de Conservatória. Local para onde o próprio Guilherme doou todo o seu acervo artístico e de vida profissional de contador. Para Wolney Porto, diretor do museu, o desafio da exposição foi fazer valer a letra da canção Quando Eu Me Chamar Saudade, uma das parcerias mais conhecidas de Guilherme de Brito com Nelson Cavaquinho:

Sei que amanhã / Quando eu morrer / Os meus amigos vão dizer / Que eu tinha um bom coração / Alguns até hão de chorar / E querer me homenagear / Fazendo de ouro um violão / Mas depois que o tempo passar / Sei que ninguém vai se lembrar / Que eu fui embora / Por isso é que eu penso assim / Se alguém quiser fazer por mim / Que faça agora / Me dê as flores em vida / O carinho / A mão amiga / Para aliviar meus ais / Depois que eu me chamar saudade / Não preciso de vaidade / Quero preces e nada mais

"O museu surgiu por conta de minha proposta e do empenho do Guilherme e de Dona Nena", conta Wolney. "Lembro o quanto ele ficava inseguro em transportar todo este material único, com fotos, discos, objetos e até quadros pintados por ele. Mas na abertura ficou comovido, pois muitos de seus parceiros não tiveram a mesma sorte. As imagens de Clara Nunes e do Pixinguinha ao seu lado são memoráveis! Todo visitante pergunta se são fotografias originais mesmo. Quando afirmo que tudo veio da casa do Guilherme, ficam em estado de graça."

Quem sabe não é a esta simplicidade dos anônimos visitantes do museu Guilherme de Brito que Juarez se refere ao falar de sua ligação com Conservatória: "Eu me encontro nesta gente humilde, na conversa à toa jogada fora nos botequins, na música que essa gente simples guarda com suas recordações, que busca no museu. Isso faz me sentir em casa, me traz de volta o calor do meu pai que já se foi".

“A flor e o espinho” e “The top cats”. Foi com a benção de José e Joubert Borges que Juarez formou, no início da década de 1980, o grupo “A flor e o espinho” (nome sugerido pelo pai, inspirado em uma de suas mais famosas composições). Além do violão de 7 cordas de Juarez, o grupo contava com o violão de 6 cordas de Ney Vieira, o cavaquinho de César, o bandolim de Paulinho e o pandeiro de Joel Maluco. Para cantar, Joel convidou um primo seu, Zeca, que acompanhou o grupo entre 1982/1983(algum tempo depois, esse mesmo Zeca começaria a freqüentar o “Cacique de Ramos”, onde conheceria Beth Carvalho – que lhe daria o auspicioso apelido de “Pagodinho”). O grupo “A flor e o espinho” fez apresentações nos Clubes Guanabara, Viçosa, Florença e Curtume Carioca, e foi desfeito no final dos anos 1980.

O início da trajetória musical de Juarez, porém, vem de mais longe: no tempo em que ainda servia o Exército, em que chegou a cabo no ano de 1968, já cantava composições próprias. Depois, aos vinte e poucos anos, criou o conjunto de rock "The top cats", imitação assumida do grupo "The pops". O guitarrista da banda era o atual subchefe da polícia civil, Dr. Ricardo Martins. No contrabaixo, ficava Irineu, hoje marido da irmã de Juarez. O grupo tocava no Programa Haroldo de Andrade, no Canal Excelsior, e em paragens como o Clube Viçosa, em Vista Alegre, bairro de Irajá, no Clube Curtume Carioca, bairro da Penha, e no Tijuca Tênis Clube, na zona norte da cidade.

Certa vez, num concurso em que concorriam bandas como “The Fevers” e “Golden Boys”, conquistaram o primeiro lugar. Mas o dia em que iriam gravar o primeiro LP foi o mesmo em que Juarez deveria começar a trabalhar na Souza Cruz, através de um pedido de seu pai. Entre tentar a sorte e aceitar o emprego fixo, ficou com a segunda opção. Juarez lembra que, nessa ocasião, o próprio Haroldo de Andrade, que então morava em Brás de Pina, o chamou e insistiu para que fosse gravar o LP. Mesmo assim, não foi, e sem ele o restante do grupo desistiu de ir.

Perdas e Ganhos. Na Souza Cruz, Juarez trabalharia por dez anos. Lá também trabalhava Valquíria, uma moça que, como ele, morava em Irajá. Os dois não se conheciam muito bem, mas colegas perguntaram a ele se não poderia dar uma carona para a moça, que estava muito abalada com a perda recente de um irmão. As viagens lado a lado até Irajá acabariam numa união que já dura há 38 anos – e na “declaração de amor” contada lá em cima.

Em 1979, Juarez e Valquíria decidiram juntos pedir demissão da Souza Cruz. Com o dinheiro obtido, comprariam o primeiro apartamento e um táxi. Talvez tenham sido os cinco anos em que Juarez trabalhou como taxista que definiram dois de seus traços marcantes: a paixão por dirigir (em tempo: o último desejo de nosso entrevistado é ser enterrado junto ao volante de um monza que guarda secretamente em sua casa com esse único propósito) e o jeito hábil de lidar com o público, que lhe dá ares perenes de relações públicas. Foi o jeito divertido e carismático, aliás, que fez um amigo pressentir no taxista um talento para vendas, de onde veio o convite para trabalhar na empresa Tupaíba Ferro e Aço. Lá, Juarez faria carreira, fechando com habilidade negociações importantes e cativando a clientela com a muita graça e bom humor costumeiros. Em 1997, depois de 15 anos de trabalho no setor, decidiu finalmente se aposentar, para tristeza do amigo. Foi com a aposentadoria que a vida como “empresário de transporte” começou.

Hora de voltar. A Van reúne os visitantes, que levarão belas memórias de Conservatória. Passa por Nova Iguaçu e deixa passageiros; faz escala na Rodoviária Novo Rio, nova despedida; vai até os bairros do Leblon e Flamengo, deixa mais gente; chega até a Penha...

Apoiadores do projeto VIVA O COMPOSITOR:

Hotel Fazenda Rochedo
Museu da Seresta
Pousada Martinez
Pousada Serras Verdes
Pousada Sol Maior
Restaurante Dó-Ré-Mi
Transportes Juarez de Brito
(21) 2473-1417 / (21) 9715-2511 / (21) 9911-1221



*Os autores: Clarissa Alves Machado é jornalista. Luiz Carlos Prestes Filho é diretor de filmes documentários para TV e cinema.

quinta-feira, 6 de março de 2008


A Travessia de Lígia Jacques e de Rogério Leonel...
por Conservatória
Texto de Clarissa Alves Machado e Luiz Carlos Prestes Filho
Legenda da fotografia: O casal Ligia Jacques e Rogério Leonel
com o seresteiro Joubert de Freitas


“Sentimos em Conservatória que estamos vivos, que a nossa arte vai sobreviver aos tempos. Como seria importante para os músicos de Belo Horizonte sentir o que sentimos neste momento. Aqui não é a mídia que manda. Aqui se preserva o DNA da nossa canção de amor”, desabafou, entre um gole e outro de cachaça, Rogério Leonel, no Restaurante Dó-Ré-Mi, local de encontros poético-musicais no centro de Conservatória. Visitando a Capital das Serestas e Serenatas pelo projeto VIVA O COMPOSITOR da UBC, ao lado da cantora Lígia Jacques, sua companheira de vida e de profissão, o músico era a própria confirmação das profecias de José Borges: “Virá um futuro em que os compositores e músicos profissionais virão ouvir os seresteiros para sentir o sabor da improvisação, do amadorismo, das vozes desafinadas, mas cheias de amor e espontaneidade que faltam no mundo de negócios musicais”.

Lígia, que comparou a seresta a um ritual “quase religioso, parecido com a comunhão da meditação”, cantou para o seresteiro Joubert – irmão mais moço de José Borges, que com ele fundou a tradição da serenata – logo no primeiro dia de sua viagem a Conservatória. Ao conhecer, no Museu da Seresta, a cantora mineira que desde os fins da década de 70 atua no cenário musical de Belo Horizonte, Joubert lhe pediu que mandasse um beijo para todas as mulheres de BH – para os homens, mandou apenas um “cruz credo”.

“Casamos na música”

A parceria musical de Rogério e Ligia começou em 1979. Naquele ano, seria realizado o Festival de Música da UFMG (onde Ligia então cursava Biblioteconomia), e ela foi convidada para cantar a canção que ele havia preparado para o festival. “O primeiro arranjo vocal de música popular que eu fiz, foi a primeira que ela cantou”, conta ele. Os dois se conheceriam no “Bar do Tadeu”, ponto de referência dos músicos de Belo Horizonte.

Por essa época, Rogério – filho de um sanfoneiro do interior de Minas, que aos dez anos ganhara o primeiro violão e aos treze “tirava de ouvido” grandes artistas – já vivia de música, enquanto Ligia começava a se integrar a esse universo, atuando junto ao “Grupo Mambembe” (ligado a outros importantes nomes da música mineira, como Toninho Camargo, Ricardo Faria e Titane). “Rogério influenciou e desenvolveu a minha trajetória”, diz Ligia, a quem as turnês levariam a se apresentar em cidades como Brasília, São Paulo, Campinas e, no interior de Minas, Januária e Itambacuri.

Museu Vicente Celestino

As imagens nas paredes do Museu Vicente Celestino, atraíram a atenção do casal, por remeter a um universo de 80 anos atrás. Entre as peças em exposição, o figurino do filme “O Ébrio”, o piano de Vicente Celestino – sobre o qual há um antigo e amarelecido livro de partituras editadas pela UBC –, prêmios de Jorge Goulart e Nora Ney, documentos de Silvio Caldas e Clara Nunes, figurinos de Gilda Abreu e Emilinha Borba. Universos que poderiam ter desaparecido se não fossem os cuidados de Wolney Porto, curador do museu: “Hoje meu trabalho está cada vez mais técnico, seco. Tento não me angustiar com tantos fragmentos de nossa História que estão desaparecendo por falta de apoio financeiro. Tem meses que não tenho recursos para comprar material para combater fungos e cupins. Até mesmo a conta de telefone já foi cortada. Mas essa é a vida de quem trabalha com a memória nacional. Já me conformei. Tento não me emocionar mais”, diz.

“Tenha certeza Wolney”, rebateu Rogério, “que seu trabalho é importante por este lado do sacerdócio. Por demonstrar que nada nesta vida tem somente o valor do dinheiro. Existe no seu museu Vicente Celestino o valor da energia, o valor da ‘sentimentação’, o valor do simbolismo. É uma força enorme que envolve até o visitante apressado, que termina abatido pelo encantamento”, disse emocionado. Durante a visita, a presença da atmosfera da Rádio Nacional, especialmente na área dedicada ao casal Jorge Goulart e Nora Ney, lhe fez lembrar do tempo em que sintonizava o rádio para ouvir o irmão mais velho, Antônio, cantar num programa realizado na cidade mineira de Passos. O irmão, já falecido, era dez anos mais velho e “tinhoso, não perdia uma briga”, o que lhe valeu o apelido desde pequeno de “Antônio Lampião”.

Para o casal, que trabalha com o repertório da MPB, o Museu Clube da Esquina, em Belo Horizonte, é bem diferente dos museus de Conservatória, que ficam abertos nas madrugadas, esperando a passagem dos seresteiros e, conseqüentemente, dos turistas. “O Museu Clube da esquina tem ciclos de palestras, reúne compositores e músicos que fizeram parte daquele movimento cultural, divulga o conteúdo de toda uma geração, mas não tem esse diálogo mágico que o Wolney criou. Penso que haveria espaço para um intercâmbio super-positivo entre as instituições”, diz Rogério. “Quem sabe poderíamos lá organizar um ciclo sobre a serenata de Conservatória, que promoveu o desenvolvimento econômico e social da localidade, e o Clube da Esquina, que interferiu nos processos políticos e estéticos de todo o Brasil nos anos70?”, sugere.

Baião Barroco

Na seresta da Pousada Sol Maior, Rogério acompanhou Ligia na interpretação de Baião Barroco, música de Juarez Moreira letrada por Simone Guimarães, criada em 1989. Nas mãos, o violão feito sob medida na oficina de Vergílio Lima, de Sabará, com afinação “Rio Abaixo”:

“... Chama o povo que a noite estrelou / Vidro de fogo e vento de palmeira / Um homem saiu de dentro de uma estrela / E me dizia o teu nome, o teu nome, o teu nome... / O teu nome, o teu nome / Então um anjo voou da boca de um cantor / É meu canto de amor ...”

Além de Juarez Moreira, outros nomes destacados pelo casal no cenário musical da BH de hoje são Toninho Horta (um dos fundadores do Grupo Mambembe, cuja poesia tem forte ligação com a de Noel Rosa), Ladston do Nascimento, Sérgio Santos (parceiro de Paulo César Pinheiro), Flávio Henrique, Weber Lopes, Oiliam Lana (destaque da música erudita mineira), a cantora Loslena (que tem resgatado os trabalhos de Zé Neto, indigenista e poeta, autor de “Paraisagem”), e Hufo Herrera, argentino há vinte anos radicado em BH. Ligia considera que o crescimento da produção musical dos últimos anos é parte de um movimento geral: “A música instrumental cresceu depois da regulamentação da Lei de Incentivo à Cultura de Minas Gerais, que estimulou a produção de CDs e espetáculos”.

As experiências do casal no ensino de música e canto (Ligia atua como professora de canto e preparadora vocal; Rogério leciona música em escolas, como o tradicional Colégio Estadual Milton Campos) lhes permite acompanhar o desenvolvimento das futuras gerações na música. Na opinião do professor Rogério, harmonia é um dos desafios para a maioria dos músicos. “Há aqueles que têm harmonia, mas não têm poesia, e aqueles que têm poesia, mas não conseguem ter harmonia”.

Sobre a arrecadação de direitos autorais dos compositores, músicos, arranjadores e intérpretes mineiros, ainda incipiente diante de sua importância, os dois pensam que se deve à falta de uma cultura de valorização da importância da gestão de bens intangíveis: “Existe uma dificuldade no entendimento do papel estratégico dos direitos autorais. Os valores de arrecadação e de distribuição, dizem alguns profissionais, são baixos e isso faz eles não correrem atrás de informações sobre o tema”.

Travessia

“Quando você foi embora, fez-se noite o meu viver...”. Antes de partir de Conservatória, Ligia prestigiou as pessoas à sua volta cantarolando a conhecida música de Milton Nascimento e do amigo do casal Fernando Brant: “Brant não deve ter noção do que se fez nestas terras pela música brasileira, inclusive, pelas canções que ele compôs. Quando vemos as centenas de placas que contêm o título e o nome do autor de uma canção, afixadas nas fachadas das casas de Conservatória, o coração diz que ele tem que conhecer este lugar. O Fernando tem que viver estas placas inauguradas por um Dorival Caimmy, Paulinho Tapajós, Edmundo Souto, João Roberto Kelly, J .Junior, Beth Carvalho. Ele vai adorar ouvir as vozes desafinadas cheias de amor e espontaneidade”

Disco:

Choro Barroco (2001)

Fontes:
Site oficial Ligia Jacques
http://www.ligiajacques.com.br/

Site da oficina do Luthier Vergílio Lima
http://br.geocities.com/vergilioarturlima/

Museu Clube da Esquina
http://www.museudapessoa.net/clube/index.shtml

Letra de Baião Barroco
http://letras.terra.com.br/simone-guimaraes/608926/

Fotografia: Lena Bela

Apoiadores do projeto VIVA O COMPOSITOR:

Hotel Fazenda Rochedo

Pousada Serras Verdes

Pousada Sol Maior

Pousada Martinez

Restaurante Dó-Ré-Mi

Transportes Juarez de Brito
(21) 2473-1417 / (21) 9715-2511 / (21) 9911-1221

Museu da Seresta

*Os autores: Clarissa Alves Machado é jornalista. Luiz Carlos Prestes Filho é diretor de filmes documentários para TV e cinema.

quinta-feira, 28 de fevereiro de 2008

A Sanfona invade a cidade das Serestas e Serenatas

O sanfoneiro Zé Calixto, sócio da UBC há 40 anos, visita Conservatória, capital brasileira da música
Texto de Clarissa Alves Machado e Luiz Carlos Prestes Filho*

"Tocar uma sanfona de oito baixos é mais difícil que acordeão. Até porque não tem mestre para ensinar", gaba-se, orgulhoso, o sanfoneiro Zé Calixto para o seresteiro Odilon Parente, proprietário da pousada "Sol Maior", localizada na Capital das Serestas e Serenatas, Conservatória.

"Mas nossa localidade", rebate Odilon, "é original e impossível de ser copiada, apesar de muito pequenina como sua sanfona de oito baixos. E não adianta levar nossos seresteiros para Diamantina, Parati ou Ouro Preto, somente o nosso casario imperial, somente este pano de fundo, faz brotar e morrer a magia das canções de amor todos finais de semana".

O sanfoneiro sorri matreiro e responde que a sorte então está do seu lado, pois se Conservatória tem que ser visitada para ser conhecida, seu instrumento tem muita mobilidade, pode invadir qualquer recanto deste Brasil, como a Feira de São Cristóvão, no Rio de Janeiro, e as festas de São João de Mossoró, no Rio Grande do Norte: "Ninguém pode ignorar o poder deste meu pé-de-bode!"

Para a platéia da seresta que acontece todos os sábados entre as 18h e 20h na "Sol Maior", Zé Calixto explica melhor: "Qualquer tecla do acordeão, abrindo ou fechando, dá somente uma nota musical. Já na minha sanfona, abrindo a tecla dá uma nota, fechando faz outra. Isso afasta o caboclo fraco de imaginação e disciplina".

Parcerias de ouro

Acompanhado de sua mulher, Rita, ele se viu mergulhado nos aplausos daqueles para quem sua música e instrumento são referências da brasilidade. Natural da Paraíba, Zé Calixto conta que nasceu no dia 16/07/1933, mas que por um erro cometido no cartório foi registrado com a data de nascimento de um primo falecido, com quem passou os primeiros anos de vida. Os dois eram Zé, então o tabelião confundiu e colocou na certidão o dia 11/08/1935: "Assim fiquei mais jovem dois anos".

Do seu casamento, que no ano que vem completa 50 anos, vieram quatro filhos, oito netos e um bisneto. Sua filha caçula é afilhada do Gonzagão: "O Rei do Baião é um capítulo especial na minha vida. Com ele viajei por todo o nordeste e fiz os melhores São João de Campina Grande, cidade onde nasci e para onde vou todos os anos". Caso estivesse vivo, Gonzagão poderia ter sido o motorista que levaria Zé Calixto para Conservatória. "Para ele", lembra o amigo, "não havia mal tempo, estradas impossíveis de atravessar, sempre foi um cabra-macho decidido, fiel condutor da música e dos amigos".

Os dois tinham boa diferença de idade e se conheceram numa rádio em Campina Grande. Zé Calixto ofereceu para Gonzagão uma música de sua autoria, que o grande forrozeiro registrou em seu gravador de fita de rolo. Quando se encontraram um ano depois no Rio de Janeiro, para onde Zé Calixto veio em 1959, soube que a gravação tinha sido apagada acidentalmente: "Tudo bem, desenvolvemos a amizade, que é assim: através dos erros que conhecemos os amigos".

Ele voltou a evocar Luiz Gonzaga ao contar episódio em que, caminhando pelas ruas sonoras de Conservatória uma outra vez, foi questionado por uma moça sobre o seu "instrumentinho", que ela apreciara muito mas que nunca havia visto ou ouvido falar: "É... amiga, foi neste instrumentinho aqui que o pai do Gonzagão, o Januário, deu seus primeiros passos, assim como o próprio Luiz Gonzaga. O Sivuca e o Dominguinhos, o último, filho de afinador, também fizeram nele a glória da qual sou um humilde servidor".

Museu da Seresta e da Serenata

Durante a noite, no Museu da Seresta e da Serenata, no centro de Conservatória, Zé Calixto tocou com os violões centenários e fez pousar nos corações a "Asa Branca" com a Rosinha de verdes olhos. Membro da União Brasileira de Compositores (UBC), ele se sentiu feliz de ver nas paredes fotografias de colegas que por ali passaram: Edson Menezes, Bidú Reis, Raul de Barros, João Roberto Kelly, Bob Nelson e Getúlio Macedo. "Como compositor, desde 1968 sou membro da UBC, que protege meus direitos autorais. Criei choros, forrós e outros gêneros. A obra mais conhecida do Zé Calixto” – diz, falando de si na terceira pessoa – “é a gravação de 'Escadaria', que é sempre lembrada faz 45 anos. O autor é o Pedro Raimundo, eu fiz interpretar e por esta interpretação entrei na História da música brasileira. E cada vez que esta obra é levada pela TV, por uma rádio ou é reproduzida numa festa, ganho o que me é de direito como intérprete".

"Para os seresteiros, receber as visitas dessas personalidades emociona. Tem relação com o reconhecimento da importância de nossa localidade para a canção de amor que veneramos. Nossa missão é manter a canção viva, inclusive todas as obras dos compositores da UBC", afirma a seresteira Marluce, que nas madrugadas de sexta e sábado caminha na serenata ao lado de Joubert Freitas, um dos fundadores do movimento da seresta há 60 anos.

No Museu Vicente Celestino, Zé Calixto encontrou imagens daquele com quem viveu momentos inesquecíveis – Jackson do Pandeiro. "Eu conheci o Jackson ainda na Paraíba, acompanhando meu pai num Pastoril. Eu era um menino de 9 ou 10 anos, ele já era um homem feito. Comecei a tocar minha sanfona de oito baixos e lembro que ele ficava encantado com o menino aqui", conta o sanfoneiro.

O conterrâneo de Alagoa Grande acabaria se tornando seu colega de trabalho: "Depois o Jackson foi embora para o Rio e São Paulo. Cidades onde o reencontrei e onde resolvemos fazer uma temporada, onde gravamos com vários outros artistas. Terminamos formando a caravana ‘O Fino da Roça’, ao lado do Elino Julião, Genival Lacerda, Messias Holanda e muitos outros. O nordeste ficou aos nossos pés naquele ano".

Zé Calixto conta sua trajetória

Relembrando sua trajetória, Zé Calixto conta que foi aos oito anos que teve início sua amizade com a sanfona: "O meu pai, que a vida toda viveu de música, foi a minha principal referência artística, mas a verdade é que ele não achava bem eu menino seguir seus passos no fole. Mas eu tinha talento, teimava, as pessoas insistiam: 'deixa o menino tocar, Seu Dideu', que é como ele era conhecido, e aí não teve saída. Eu comecei a tocar e ganhar o meu dinheirinho com a música. Meus irmãos, o Bastinho e o Luizinho, fizeram a mesma coisa que eu" .

As primeiras músicas de Zé Calixto surgiram sem compromisso profissional: com a sanfona, ganhava os tostões com o qual a mãe comprava tecido para costurar, à mão, sem maquinário algum, suas calças curtas de menino. Aos 12 anos, já enfrentava sozinho bailes e festinhas caseiras. Nos 26 já estava sendo reconhecido. "Foi quando eu decidi me casar", diz.

O convite para tocar no Rio de Janeiro, que mudaria o destino de sua carreira, veio ainda durante a lua-de-mel: "O compositor Antônio Barros, naquele ano, me convidou para tocar no Rio de Janeiro e me apresentar a uma gravadora. Fiz uma viagem de oito dias de ônibus numa estrada de chão de terra batida, mas valeu a pena. O José Loureiro, o então diretor da empresa, gostou do meu jeito na sanfona, e redigiu o primeiro contrato de minha vida. Foi ele quem me 'batizou' com o nome artístico de 'Zé Calixto'. Pouco tempo depois eu estava no estúdio".

Com o primeiro dinheiro que ganhou, o sanfoneiro voltou à Paraíba para trazer sua “calanguinha” – modo carinhoso como ele às vezes chama D. Rita – para o Rio de Janeiro, onde os dois vivem desde então.

Afinação na sanfona e no bilhar

Na sala de jogos do Hotel Fazenda Rochedo, onde ficou hospedado, Zé Calixto disse que sempre gostou de bilhar francês. “Pra jogar a carambola, é preciso ter boa pontaria e afinar o olhar, ter muita segurança nas mãos, porque o erro praticamente não pode existir”, diz. Talvez esse exercício de afinação do olhar e firmeza nas mãos seja o que lhe ajuda na busca pela exatidão na afinação do fole: "Quando vou à Feira de São Cristóvão, acompanho a venda de instrumentos musicais. Caso seja necessário, estou ali para afinar. Tenho capacidade de executar esse serviço por conta da minha formação, por ser nordestino, por saber por onde e como passam os sons".

Segundo Zé Calixto, que faz em seus instrumentos uma afinação “de ouvido” (a qual, na sua opinião, é superior à feita com diapasão em oficina), a afinação dada pelo músico nordestino “é única, nem os criadores dos instrumentos são capazes de reproduzir a escala cromática que só o nordestino conhece”. O músico leva até 15 dias para afinar uma sanfona de oito baixos, e 30 no caso de um acordeão grande. Bom mesmo é apreciar o resultado de tanta perícia e esmero, como no café da manhã na Pousada Martinez em que Zé Calixto, ao lado de Ronaldinho do Cavaquinho e Deon – figuras já conhecidas de quem visita Conservatória –, emocionaram com canções como “Último pau de arara” e “Delicado”.

A viagem de Zé Calixto a Conservatória foi, sobretudo, uma possibilidade para que, como outros artistas da UBC que já visitaram a localidade (por conta do projeto “Viva o Compositor”), ele pudesse ver de perto a cidade que não se esquece desses grandes compositores brasileiros, a cidade que executa suas obras, venera suas imagens nos museus e recebe cada um deles como se fora um velho amigo que nunca viram, mas... que sempre ouviram.

Discografia de Zé Calixto
• Forró de Seu dideu/Polquinha brejeira (1960) Sinter 78

• Oito baixos no frevo/Forró em Serra Branca (1960) Sinter 78

• Forró em Campina Grande/Xote em fá (1960) Sinter 78

• Bodocongó/Bossa-nova em oito baixos (1960) Sinter 78

• Arrodeando a fogueira/Apertadinho (1961) Philips 78

• A pisada é essa/Tempo de milho verde (1963) Philips 78

• Zé Calixto (1973) CBS LP


Fonte: http://www.dicionariompb.com.br/

Fotografia: Nubbia

O projeto “Viva o Compositor” conta com os seguintes parceiros em Conservatória:
- Hotel Fazenda Rochedo
- Pousada “Sol Maior”
- Pousada “Serras Verdes”
- Pousada “Martinez”
- Restaurante “Dó, Ré, Mí”
- Museu da Seresta e Serenata
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*Os autores do texto: Clarissa Alves Machado é jornalista e Luiz Carlos Prestes Filho é diretor de filmes documentários para TV e cinema.

Nota: Bastinho Calixto, segundo filho de Seu Dideu e D. Maria Calixto, fez músicas que fizeram sucesso na voz de artistas como Tim Maia (“O Adeus de quem tanto amei”), Elba Ramalho (“Toque de fole”) e o Trio Nordestino ("Vamos lê lê lê"); Luizinho Calixto, filho caçula, também é sanfoneiro. Ambos são sócios da UBC.
(Matéria publicada no site da União Brasileira dos Compositores em 12/02/2008 )