tag:blogger.com,1999:blog-65642088541733830642024-03-12T17:21:50.915-07:00HipertextoImpressões de leitura.ClarissaMachhttp://www.blogger.com/profile/13818882840125902672noreply@blogger.comBlogger52125tag:blogger.com,1999:blog-6564208854173383064.post-40394416474467009782012-12-18T08:25:00.000-08:002012-12-18T08:25:47.702-08:00Para não dizer que não falei de AidaHoje a homenagem vai para a minha outra avozinha, também muito amada, Aida Gonçalvez Maduro...
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A coisa mais legal da minha avó era que ela era fofinha. Sabe essas avós gordinhas, fofinhas, que você adora beijar e abraçar? Era a minha! Lembro de uma vez em que meu tio Quim, seu filho do meio, falou, todo solene: “Só tem uma coisa no mundo que eu invejo de vocês”. Nós, sobrinhos, estupefatos, olhos escancarados sem entender nada. “O quê, tio?”. “Vocês têm uma avó para beijar e abraçar. Se eu tivesse minhas avós ainda, eu ia abraçar e beijar muito!”.
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E era o que eu fazia. Gostava também de ouvir as intermináveis histórias que ela tinha para contar. Nem todos tinham a mesma paciência, porque às vezes as histórias se embolavam umas com as outras, tinham início, meio, mas quase nunca um fim – uma estrutura labiríntica que tornava difícil reter o fio da meada, mas acho que já naquela época eu tinha essa memória desgraçada que é a minha benção e a minha maldição. O importante era estar perto dela.
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Lembro de certa vez quando ela contou que, na época da guerra, os homens comiam ratos e bebiam xixi de cavalo. “Cruzes, vó”. Lembro também de uma história em que alguém havia tentando agarrar uma moça à força numa espécie de atelier de costura e que a moça tinha cravado uma tesoura no tal sujeito. “Que isso, vó! E ele, morreu?”. “Não sei, naquela época, buscava-se socorro a cavalo...” dizia ela com toda a naturalidade, naquele sotaque lusitano que ela nunca perdeu, mesmo após décadas de Brasil.
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Reza a lenda que ela havia sido bem brava quando era mais jovem. Em Portugal, trabalhava “como um homem” na roça, ao lado do pai. Nós, os netos, só conhecemos a velhinha fofa, de olhos cor de mel, cabelos longos, lisos e brancos, presos a maior parte do tempo. Ficava bonita nas raras vezes em que os usava soltos.
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Uma das suas características mais peculiares era o fato de que sempre nos chamava por uma meia dúzia de vocativos diferentes, até acertar. Ou quase. Era mais ou menos assim: ela primeiro ia chamar “ó Joana, ó Francisca, ó Madalena, ó Maria Clara...” e pronto, fechava assim, daquele minuto em diante eu era Maria Clara para o resto do dia.
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Eu bem que gostava.
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Era muito católica. Quando as igrejas evangélicas começaram a se espalhar na Baixada Fluminense, duas delas calharam de dividir muro com o terreno onde ela morava. A solução era pagar um real a cada neto que cantasse em altos brados as músicas do padre Marcelo Rossi durante a realização dos cultos alheios.
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(Se se resolvessem de forma tão lúdica e inofensiva todas as intolerâncias, nosso mundo estaria bem melhor e mais divertido...)
ClarissaMachhttp://www.blogger.com/profile/13818882840125902672noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6564208854173383064.post-36875924004393807072012-08-06T10:46:00.000-07:002012-08-06T10:46:20.644-07:00Carta de despedida de Kofi Annan em portuguêsAleppo está sob cerco e a perspectiva de perda de outras centenas de vidas de civis na Síria é muito alta. As Nações Unidas condenaram a derrocada para uma guerra civil, mas a luta segue adiante com nenhum sinal de alívio para os sírios. Elementos jihadistas foram atraídos para o conflito. Há também grande preocupação com a segurança das armas químicas e biológicas da Síria. A comunidade internacional está parecendo visivelmente impotente em suas tentativas de influenciar o curso brutal dos acontecimentos - mas este não é de forma alguma inevitável.
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Enquanto o Conselho de Segurança está aprisionado num beco sem saída, na Síria ocorre o mesmo. O governo tentou suprimir, com extrema violência, um movimento popular e amplamente disseminado que, depois de 40 anos de ditadura, decidiu que não poderia mais ser intimidado. O resultado foi uma crescente perda de controle na região, e a oposição mobilizou-se para a sua própria campanha militar para contra-atacar. No entanto, ainda não está claro como o governo pode ser derrubado apenas pela força.
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Entretanto, existe também um impasse político. Um movimento de massas, nascido da demanda por direitos civis e políticos, e o empoderamento das vozes por mudança emergiram na Síria após março de 2011. Mas, em que pese toda a extraordinária coragem exigida aos manifestantes para marchar cada dia diante da crescente violência do governo, este movimento não foi capaz de produzir pontes entre as divisões comunitárias na Síria. Oportunidades de superar essa situação foram perdidas na violência crescente.
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Meios militares sozinhos não darão fim à crise. De forma semelhante, uma agenda política que não é nem inclusiva nem abrangente vai fracassar. A distribuição de forças e as divisões na sociedade síria são de um tipo tal que somente uma séria transição política negociada pode ter esperanças de dar fim à regra repressiva do passado e evitar um futuro decadente rumo a uma vingativa guerra sectária.
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Diante de um desafio grande como esse, somente uma comunidade internacional unida pode compelir ambos os lados a se engajarem numa transição política pacífica. Mas um processo político é dificíl, senão impossível, quando todos os lados - dentro e fora da Síria - veem oportunidade de avançar suas estreitas agendas por meios militares. A divisão internacional significa suporte para agendas por procuração e o fomento da competição violenta na região.
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É por isso que busquei consistentemente tentar ajudar a comunidade internacional a trabalhar unida para dar fim a essa dinâmica destrutiva e a focar as mentes das partes em conflito na região a se engajarem num processo político. No início do meu mandato ganhamos suporte internacional por isso, com resoluções do Conselho de Segurança, as quais autorizaram observadores militares das Nações Unidas a se posicionarem na Síria. Depois de um cessar-fogo em 12 de abril, contrariamente a algumas declarações, o bombardeio de comunidades civis pelo governo parou, demonstrando o impacto que essa unidade poderia ter.
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Entrentanto, o apoio internacional prolongado não se seguiu. O cessar-fogo rapidamente se desfez e o governo, percebendo que não haveria consequências se retornasse a uma campanha militar explícita, reverteu ao uso de armas pesadas sobre as cidades. Em resposta, busquei reenergizar a direção para a unidade em junho, ao criar o Grupo de Ação internacional para a Síria, estabelececeno uma estrutura para uma transição que suportasse os esforços sírios para mover-se rumo a um corpo governamental de transição com plenos poderes executivos. A transição significa uma mudança gerenciada, mas completa, de governo - uma mudança de quem lidera a Síria e como lidera. Nós deixamos a reunião acreditando que uma resolução do Conselho de Segurança endossando a decisão do grupo estava garantida - como a primeira de uma série de medidas que iriam assinalar uma virada. Mas desde então, não houve continuidade. Em vez disso, houve ofensas e acusações no Conselho de Segurança.
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Há claros interesses comuns entre as potências regionais e internacionais numa transição política gerenciada. A conflagração ameaça uma explosão na região que poderia afetar o resto do mundo. Mas é preciso liderença e compromisso para superar a atração destrutiva das rivalidadees nacionais. Ação conjunta requer esforços bilaterais e coletivos de todos os países com influência sobre os atores em cena na Síria, para pressionar os partidos a respeito de que uma solução política é essencial.
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Para Rússia, China e Irã isso significa que eles devem realizar esforços concertados para persuadir a liderança síria a mudar de curso e abraçar a transição política, percebendo que o governo atual perdeu toda a legitimidade. Um primeiro movimento da parte do governo é vital, uma vez que sua intransigência e recusa a implementar o plano de paz de seis pontos foi o maior obstáculo para qualquer processo político pacífico, garantindo a desconfiança da oposição em propostas para uma transição negociada.
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Para os Estados Unidos, Reino Unido, França, Turquia, Arábia Saudita e Qatar, isso significa pressionar a oposição para abraçar um processo político inclusivo pleno - o que incluirá comunidades e instituições atualmente associadas ao governo. Isso também significa que o futuro da Síria em mais que o destino de um único homem.
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É nítido que o presidente Bashar al-Assad deve deixar o posto. O foco principal, entretanto, deve ser em medidas e estruturas para assegurar uma transição de longo termo pacífica para evitar um colapso caótico. Essa é a questão mais séria. A comunidade internacional deve arcar com sua parcela de responsabilidade.
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Nada disso é possível, porém, sem compromisso genuíno de todos os lados. O empate significa que todos devem mudar de curso: o governo, a oposição, potências regionais e internacionais. Dessa forma, a comunidade internacional pode liberar uma condição essencial do processo político - uma comunidade internacional unida, que suporta ativa e efetivamente a transição pacífica para um governo legítimo.
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A Síria ainda pode ser salva de uma calamidade pior. Mas isso exige coragem e liderança, principalmente dos membros permanentes do Conselho de Segurança, incluindo os presidentes Putin e Obama. Nosso comunidade internacional vai agir em defesa dos mais vulneráveis em nosso mundo, e fazer os sacrifícios necessários para ajudar? As próximas semanas na Síria vão dizer.ClarissaMachhttp://www.blogger.com/profile/13818882840125902672noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6564208854173383064.post-72799726389594715072011-05-01T13:48:00.001-07:002011-05-01T14:18:33.131-07:00Sobre a LíbiaGente, para tudo que hoje eu quero relembrar de uma pessoa que perdi há mais de dez anos, quando eu ainda era adolescente, mas que vai ser sempre muito especial para mim: a minha avó Líbia. <br /><br />Isso mesmo, o nome dela era Líbia, nome do país que exatamente neste momento está atravessando uma situação caótica – infelizmente, a cobiça dos “homens lá de cima” se abateu sobre o norte da África mais uma vez.<br />É muito engraçado mas outro dia, olhando bem para o meu sobrinho, filho da minha prima Fernanda, e para a Melinda, notei que tem uma certa semelhança no formato dos olhos, bem redondos, bem grandes, que me faz suspeitar uma origem comum: os olhos da minha avó.<br /><br />Minha prima disse que já não conseguia lembrar de memória, e eu fiquei meio apavorada. Será que já estamos esquecendo de algumas coisas dela? Reza a lenda que ela dava uns beliscões de vez em quando com aquelas unhas compridas que ela tinha, mas isso eu não me lembro não. <br /><br />Falando em unhas, vamos começar o rol de lembranças pelas mãos: eu adorava as mãos da minha avó – pasmem! – por causa do cheiro do cigarro que ficava nelas. Dá para acreditar? Eu, que detesto cigarro hoje em dia, até evito andar na mesma calçada de quem está com um cigarro aceso, simplesmente adorava aquele cheiro (lembro dela árdua e pacientemente desembaraçando meus cabelos com Bycream – será que é assim que se escreve? – e lembro claramente de sentir aquele cheiro nas mãos dela). <br />Já não lembro que marca ela fumava. Belmonte? Hollywood era o meu pai, o dela acho que era outro.<br /><br />Lembro muito, muito mesmo, de uma plaquinha que ela tinha pendurada na cozinha que dizia: “Não faça da sua língua uma arma: a vítima pode ser você”. Meu Deus, em casa, na família, no trabalho, em quantas situações me lembro dessa frase, quantas vezes me calo sobre certos fatos porque consigo ter a lucidez de que certas coisas é melhor calar e não passar adiante...<br /><br />Mas a lembrança que eu tive hoje e que me obrigou a sentar aqui e escrever foi um gesto simples que tive antes de sentar na frente do computador: nesses tempos de Aedes Aegypt, me lembrei de borrifar um raid protector da vida nos cantinhos do escritório antes de começar a escrever. Talvez porque o recipiente do inseticida fosse alaranjado, me lembrei na hora da BOMBA DE FLIT!!!<br /><br /><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgsQlqNp0wx2BgPS2o05R-fkNIldQEG-p6_R0j52DE9YgqETLEXxvp5kkyhu4X-T6WAkmeplha9PytvO6O57MGBDcg6SJfDmZwcXtB8G3_gnOtINMAZyMetkzDiGUHETKff_fFINbWo_xQ/s1600/flit.jpg"><img style="display:block; margin:0px auto 10px; text-align:center;cursor:pointer; cursor:hand;width: 320px; height: 197px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgsQlqNp0wx2BgPS2o05R-fkNIldQEG-p6_R0j52DE9YgqETLEXxvp5kkyhu4X-T6WAkmeplha9PytvO6O57MGBDcg6SJfDmZwcXtB8G3_gnOtINMAZyMetkzDiGUHETKff_fFINbWo_xQ/s400/flit.jpg" border="0" alt=""id="BLOGGER_PHOTO_ID_5601852832082677906" /></a><br /><br />Neto de dona Líbia que se preze não pode se esquecer da bomba de flit. Todas as noites, nos fins de semana pelo menos (que era quando estávamos todos juntos na casa dela, em Sepetiba), quando dava por volta de umas 19h-20h, lá vinha ela com a bombinha de flit, flitando a casa toda para garantir que nós, alérgicos a mosquito, não saíssemos de lá todos empolados.<br /><br />Mas tem tantas outras coisas que me lembro dela... do pavê (mal chegávamos na casa dela e já vinha: “vó, tem pavê?”), que é até hoje meu doce favorito, do bolo (cuja massa disputávamos com violência, choros e alguns empurrões), das torradas feitas de pão. Também tenho uma lembrança maravilhosa do seu macarrão, que ninguém faz igual (bem, o da minha tia Léia até que chega perto), e também do cheiro do café que ela preparava no coador de pano de manhã. <br /><br />Ela era atenta ao que comíamos: se queixou muito uma certa época em que eu só queria saber de comer ovo. Adorava quando limpávamos o prato. “Vovó gosta assim, quando come tudinho”. Penso que a comida era o seu jeito de nos ser carinhosa. <br /><br />Quando queríamos escrever, ela trazia sempre um papel de pão. Se queríamos água – ai, que remorso -, gritávamos lá da sala, “vóoooo... quero áaaaaagua”, de um jeito meio arrastado. Porque ela preferia assim: não gostava de criança na sua cozinha, se quiséssemos qualquer coisa, preferia que pedíssemos e que ela viesse trazer. <br /><br />Tinha um corpo magro e ágil. Andava arrastando as chinelas, eu consigo me lembrar desse som muito bem. Era incansável: a primeira a levantar, a última a se deitar. Também era a última a se servir, e sempre colocava uma banana na comida – hábito que, se não me engano, o meu irmão incorporou também. Sempre dava boa noite aos apresentadores do Jornal Nacional. <br /><br />Bem, fica aí o convite para que todos aqueles que conheceram a minha avó Líbia escrevam alguma coisa sobre ela!ClarissaMachhttp://www.blogger.com/profile/13818882840125902672noreply@blogger.com5tag:blogger.com,1999:blog-6564208854173383064.post-52784466335651811362011-04-06T04:37:00.000-07:002011-04-06T04:41:29.585-07:00У Врача? Нет!это моё второе сочинение по русское (первое так плохо, что я предпочитала не опубликовать).<br /><br />(corrected by моя русская преподавательница Елеонора)<br /><br /><br /> Я знаю, что я должна часто ходить к врачу, но я не люблю. Я только хожу к зубному врачу, например, потому что он звонит мне. Я должна идти туда, в его кабинет, раз в семестр, но я хожу только раз в год. <br /><br /> Действительно, я не люблю не враей, не больницы, не лекарства. Когда я болею гриппом, например, я ничего не делаю. Но я должна сказать, что я редко болею. Последный раз я серёзно заболела десять лет назад — у меня был лихорадка денге. Я лежала в больнице три дня. <br /><br /> К сожалению у меня было много друзей и родственников, каторые лежали в больнице. Моя любимая бабушка, например, умирала в больнице. Я забыла в которой больнице она умирала — может быть Больница Бенефисенсия Португеза. В городе где я живу, есть разнообразные больницы: Копа Дор, Больница Ларанжейрас, Больница Сау Лукас, и так далее.<br /><br /> Как я уже писала, я редко болею. Я совсем забыла, когда последний раз я была целый день в постели.ClarissaMachhttp://www.blogger.com/profile/13818882840125902672noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6564208854173383064.post-35313310009991069562011-04-04T05:21:00.000-07:002011-04-04T05:24:56.763-07:00English PracticeTheme: Today, the high sales of popular consumer goods reflect the power of advertising and not the real needs of the society in which they are sold. <br /><br />To what extent do you agree or disagree? <br /><br />(Taken from CAE). <br /><br />Corrected by Lorikeet at Dave ESL Cafe Help Center.<br /><br /><br /><br /><br /><br />I agree with the idea that the high sales of popular consumer goods reflect the power of advertising and not the real needs of the society in which they are sold. <br /><br />A very simple but evident example is the rising level of obesity that has become a common denominator in most of the richest nations (which are the most exposed to advertisements). <br /><br />Obesity - a disease of excess body fat, characterized by a body mass index equal or over 30 - can be caused by a range of reasons, but basically it is related to an imbalance between the amount of energy we absorb (through food intake) and the amount of energy we spend. <br /><br />Why are people consuming much more energy than they really need? I strongly believe that one of the reasons is an excess of ads concerning products with high amounts of fat and/or sugar (though poor in terms of nutrients). <br /><br />People consume a lot of products they should not, not because they need to, but because they were convinced they should do so. This is surely the case with soft drinks, for instance. <br /><br />Another illustrative example: the number of people devoting much of their income to buying expensive cars. A lot of people insist on having a car even when half of their income is spent on it. <br /><br />I have young friends who, despite living in neighborhoods close to subway stations or well served in terms of bus service, or close enough to their offices that they could walk or ride a bike to work, spend a large part of their wages paying off installment debts to buy a car. <br /><br />I am convinced that many of them have not given a second thought to the fact that having a car involves lots of costs – taxes, insurance coverage, gasoline and soaring prices for parking – and if they had rationally analyzed the cost benefit ratio of it, the idea of having a car would no longer seem attractive. <br /><br />Why do they behave like this? I think most of them probably have been seduced by car advertisements – since they were kids, ads have conveyed the idea that they would be no one if they could not buy the latest car model. <br /><br />These examples show the strong influence that advertisements can have over the consumer habits of societies, proving it true that advertising – rather than real needs – is the the main factor behind the high sales of some consumer goods.ClarissaMachhttp://www.blogger.com/profile/13818882840125902672noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6564208854173383064.post-8913981135192528252010-08-22T07:12:00.000-07:002010-08-22T07:13:27.205-07:00Toni e euLá estava eu, à 1h da manhã, arrastando a leitura de “Sociedade do Espetáculo”, de Guy Debord, que faz parte da bibliografia do mestrado que pretendo realizar. <br /><br />Sim, arrastando, porque eu confesso que a linguagem fragmentária, por vezes deliberadamente enigmática, linguagem-código de Debord – que assume isso algumas páginas depois – foi me dando um sono danado. <br /><br />Eis que chego a uma parte do livro que na verdade é o prefácio escrito pelo filósofo para a edição italiana, e a linguagem desabrida, sem papas na língua, me despertou. <br /><br />Leio pela primeira vez sobre o sequestro e morte de Aldo Moro.<br /><br />Aldo Moro, Aldo Moro, Aldo Moro, nunca ouvi falar.<br /><br />No dia seguinte – hoje – decidi pesquisar quem foi Aldo Moro na internet.<br /><br />Primeiro, me chamou a atenção que tenha sido assassinado em 9/5, data de nascimento da minha filha mais velha. Depois, nova surpresinha: foi sequestrado na mesma data do meu aniversário, exatos quatro anos antes de eu nascer.<br /><br />Sabe essas coincidências bobas mas que te chamam a atenção? “Que coisa!”.<br /><br />E aí veio a informação que realmente me tirou o fôlego.<br /><br />Um dos acusados de tramar o sequestro e assassinato de Aldo Moro simplesmente foi... Antônio Negri.<br /><br />Isso mesmo, Negri, autor de “O Império”. <br /><br />O “Toni”, o simpático senhor que conheci em 2005 quando, em visita ao Brasil, ele ia realizar uma palestra no Gustavo Capanema, centro do Rio de Janeiro.<br /><br />Eu estava na faculdade, colaborando para o projeto do site TJ.UFRJ. Júlia Salgado de câmera na mão, eu de microfone em punho, e perguntando ao Negri qual o papel do intelectual hoje...<br /><br />...minha primeira entrevista internacional... e Io no parlo italiano... e ele não parlava inglês...<br /><br />E eu que olhei aquele senhor de pele curtida e cabelos brancos e jamais imaginei que passara os últimos anos preso, e que tivera uma vida para lá de movimentada, uma vida que eu não vejo na maior parte dos ditos intelectuais brasileiros.<br /><br />Nossos intelectuais de muita saliva e pouco suor, de cujo habitus sou meu tanto herdeira, para minha infelicidade e frustração...<br /><br />Que coisa!ClarissaMachhttp://www.blogger.com/profile/13818882840125902672noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6564208854173383064.post-61132098356310100922010-01-29T05:27:00.001-08:002010-01-29T05:27:39.020-08:00Um encontroAs linhas seguintes fogem à proposta deste blog de ser uma análise de leituras. Trata-se de crônica de um encontro que se passou no 21 de janeiro de 2010. Como os blogs fazem as vezes de diários virtuais, creio que não há nada demais em querer deixar registrado esse dia tão prosaico e ao mesmo tempo tão especial, quando, à uma mesa do restaurante do Jockey Club, à hora do almoço, sentaram-se duas pessoas que eu tencionava reunir já há algum tempo. <br /><br />De um lado, Feliks Zalcman, analista de sistemas da Petrobras que há mais de quatro décadas se dedica à informática na petrolífera brasileira, protagonizando alguns de seus momentos decisivos. Nascido no ano de 1941 em Iecaterimburgo, cidade russa que no passado soviético chamou-se Sverdlovsk, migrou com a família para o Brasil no ano de 1960, fugindo à perseguição política – seu pai, que chegou a ser uma liderança no Partido Comunista, tornara-se um dia um dissidente. <br /><br />Conheci Feliks por conta de atividades profissionais; trabalhando na área de comunicação da unidade de Tecnologia da Informação e Telecomunicações, fiz dele um perfil para divulgação num veículo de mídia interno em novembro de 2009. Foram quatro dias de entrevistas, ao longo dos quais me tornei uma fã de seu trabalho e personalidade. <br /><br />Do outro lado da mesa, Luiz Carlos Ribeiro Prestes, que atua na área de desenvolvimento econômico do Governo do Estado do Rio de Janeiro. Carioca, nascido em 1959 no bairro de Jacarepaguá, migrou com a família para a União Soviética no ano de 1970 devido à perseguição política – seu pai, Luiz Carlos Prestes, liderança no Partido Comunista Brasileiro, tornara-se um clandestino desde o golpe de 1964. <br /><br />Conheci Luiz Carlos por conta de atividades profissionais; trabalhando no Centro de Referência em Inteligência Empresarial da Coppe/UFRJ, fui designada para entrevistá-lo quando do lançamento do livro “Cadeia Produtiva da Economia da Música”, em dezembro de 2004. Foi uma tarde inteira de entrevista e, insuspeitadamente àquela época, alguns anos mais tarde viria a me tornar sua mulher e mãe orgulhosa de sua filha caçula, Melinda Prestes.<br /><br />Os ásperos das divergências ideológicas ficam de lado. Em seu lugar, despontam as memórias identitárias, o sem número de referências culturais comuns - poéticas, musicais, midiáticas, políticas. Alguns nomes raramente conhecidos do lado de cá do globo. O repertório de piadas, em especial, produz (hilária) identidade... <br /><br />Lamento não ter registrado em imagem aquela tarde clara, a luz imensa de janeiro do Rio vencendo o voal das cortinas. Mas talvez tenha sido melhor assim; talvez não fosse tão belo ou tão relevante para o resto do mundo virtual o semblante tranquilo daqueles dois presentes. A intimidade dos significados dentro de uma alma, no fim das contas, nunca pode ser de fato devassada.ClarissaMachhttp://www.blogger.com/profile/13818882840125902672noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6564208854173383064.post-6787626546718319402010-01-11T08:04:00.000-08:002010-01-11T10:42:07.024-08:002010/01 - A Alma Encantadora das RuasA mais baixa pária da sociedade carioca, aquela gente sem eira nem beira, desgraçada mesmo, lupemproletariat: essa é a matéria prima a partir da qual João do Rio escreve as crônicas reunidas em “A Alma Encantadora das Ruas”, que comecei a ler ainda no ano passado, presente de aniversário do meu enteado e sua esposa. <br /><br />João do Rio (pseudônimo de Paulo Barreto) teve estômago para ver de perto uma cidade ignorada dentro da cidade. Vasculhou os meandros mais infectos e travou conhecimento com aqueles seres que costumeiramente olhamos de canto de olho, com fingida indiferença, carregando um quê de repúdio e um outro tanto de curiosidade. <br /><br />Já disse noutro tópico que Lima Barreto descreve em <a href="http://clarissahipertexto.blogspot.com/2009/12/clara-dos-anjos-e-outras-historias.html">“Clara dos Anjos”</a> o Rio de Janeiro dos subúrbios que raro vemos em Machado de Assis; já João do Rio, em “A Alma...”, retrata o Rio das sarjetas, dos cantos obscuros, abafados e fétidos. Digamos que, enquanto Machado de Assis fala de um Rio nobre, Lima Barreto fala de um Rio pobre e João do Rio chega a um Rio miserável. <br /><br />Ele descreve o descaminho das gentes estrangeiras em sua própria cidade, cujos dramas não chegam a comover nem interessar a ninguém - quando muito, estarrecem como um fait diver. Mas é meritoso da parte do autor o dar-lhes um registro na memória, e um nome também; ainda que suas trajetórias se repitam numa poeira sem identidade, ainda que não tenham importância em sua individualidade, o jornalista faz questão de nomear cada uma das personagens que povoam suas crônicas. <br /><br />Curiosamente, essa massa esquecida consegue se reproduzir ao longo das décadas: escrito nos primeiros anos do século XX, os cenários narrados por João do Rio em “A Alma encantadora das Ruas” são essencialmente idênticos a muitos dos que nos rodeiam até hoje, mais de cem anos depois: mendicância, vício, misérias mil.<br /><br />A princípio, estranhei um pouco o estilo muito palavrório e enfeitado do autor. Alguns textos mais parecem panfletos. Mas acho que seu escrever não destoa muito da maior parte dos jornalistas/escritores da época. João do Rio, ao que parece, sintetizou os vícios e as virtudes dos jornalistas de então. <br /><br /><strong>Quem foi João do Rio?</strong><br /><br />A questão veio à baila durante um churrasco em família, por um grupo que vai desfilar no Império Serrano este ano e não quer fazer feio se as equipes de reportagem que acompanham o desfile eventualmente fizerem umas perguntinhas.<br /><br />Bem, eu conhecia o trabalho do autor dos tempos de faculdade, mas a vontade de conhecê-lo melhor veio mesmo após a leitura de <a href="http://clarissahipertexto.blogspot.com/2009/12/historia-da-imprensa-no-brasil.html">História da Imprensa no Brasil</a>. Não é que Werneck Sodré renda muitas homenagens a João do Rio, mas, segundo ele, ao lado de Alcindo Guanabara, Paulo Barreto seria uma das figuras dominantes e mesmo caracterizadoras da imprensa brasileira no início do século XX, sendo aquele “mais jornalista que escritor” e este, “mais escritor que jornalista”. <br /><br />Caracterizado como “misto de suíno e símio” no romance “Recordações do escrivão Isaías Caminha”, de Lima Barreto (espécie de sátira meio ressentida do jornalismo de então), definido como “volumoso, beiçudo, muito moreno, liso de pêlo”, no dizer do colega de jornalismo e ABL Gilberto Amado, João Paulo Emílio Cristóvão dos Santos Barreto (1881-1921) foi, no entender de Wenerck Sodré, um desses homens de muito talento que, no entanto, se perdem nos deslumbres da fama e da glória:<br /><br />“Membro da academia, lido, admirado, Paulo Barreto preocupava-se apenas em administrar essa glória. E há poucos exemplos, mesmo num país de glórias efêmeras como o nosso, nessa época, de sucesso tão transitório, apesar de tão brilhante. Como todos os que colocam as suas energias mais na vida literária do que na obra literária, Paulo Barreto brilhou e passou – apagou-se depressa”.<br /><br />É claro que para nós, que assistimos há cerca de uns dez anos a uma retomada do interesse por sua obra (vide, aliás, a escolha como enredo para um desfile de escola de samba), essa sentença de Werneck Sodré pode parecer injusta ou equivocada. Mas é preciso compreender que, para aqueles que assistiram ao apogeu do autor, deve ter sido curioso observar o posterior silêncio, que durou quase um século, acerca de sua obra. <br /><br />Faça-se, por exemplo, rápida comparação com Lima Barreto: seus romances, por vezes, foram impiedosamente boicotados pelos grandes jornais da época; nunca chegou a ser admitido na ABL, apesar de sem-número de tentativas; morreu pobre e sem juízo. O tempo passou, foi-se a matéria, ficou a glória. Hoje, reconhecido, é leitura obrigatória até nas escolas.<br /><br />Faz pensar nos artistas contemporâneos que investem mais em marketing e holofotes que na qualidade do seu trabalho. Gente de algum talento, até, mas que, para infelicidade da humanidade, são mais afeitos à cor do dinheiro que ao valor das suas obras. <br /><br />Nada contra ganhar dinheiro produzindo cultura, afinal, grandes mestres como Da Vinci, Shakespeare e Dumas produziam, sobretudo, como forma de obter sustento e renda. Mas conciliavam essa necessidade pecuniária a um trabalho realmente genial. O que não é o caso de muito pseudoartista famoso de atualmente.ClarissaMachhttp://www.blogger.com/profile/13818882840125902672noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6564208854173383064.post-13298767548778450312010-01-04T04:31:00.000-08:002010-01-04T11:24:11.206-08:0030. Breve romance de sonhoTrigésimo e último livro de 2009 (concluí a leitura exatamente no dia 31 de dezembro). Penso que muitos casais poderiam lê-lo juntos como forma de complementar ou inaugurar uma terapia de casal, ou pelo menos para criar coragem de lançar um olhar e trocar palavras sobre temas, no mais das vezes, vertiginosos.<br /><br />Mesmo quem não tem tempo vai arranjar algum, porque o "Breve" do título faz juz à realidade: são menos de cem páginas, com uma atmosfera de suspense, e a tradução de Sérgio Tellaroli me pareceu muito boa. O texto está rico no que diz respeito ao português. Se foi fiel ao alemão original, isso não sei dizer (ainda!). <br /><br />Foi o primeiro livro de Arthur Schnitzler que li na vida, não conhecia este autor admirado por Freud, e gostei muito.ClarissaMachhttp://www.blogger.com/profile/13818882840125902672noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6564208854173383064.post-80874688014185724972009-12-28T06:49:00.000-08:002010-01-11T10:43:50.691-08:0029. Lavoura arcaicaEsbarrei com este livro nas estantes da minha querida tia Léia quando havia acabado de fraturar um dedo do pé num acidente doméstico. Imobilizada, logo no primeiro dia passei da metade. Até então nunca havia lido nada de Raduan Nassar.<br /><br />Gostei do estilo do autor, mas fiquei meio decepcionada com a trama em si. <br /><br />Raduan Nassar tem o dom da palavra; embora o texto seja rico em adjetivos e advérbios, cada palavra parece ter sido muito bem calculada, cada expressão tem significado preciso, cada termo tem um papel a cumprir. Parece poesia em prosa. É bem diferente de <a href="http://clarissahipertexto.blogspot.com/2009/12/sombra-do-vento.html">"A Sombra do Vento"</a>, por exemplo, cujas páginas exigem um pouco de esforço para quem não tem muita paciência para lero-lero, pois Zafón é meio palavroso, muitas vezes usa as palavras de modo menos informativo que decorativo. Nassar consegue conciliar as duas coisas. Tem um quê de Clarice Lispector, de deixar o leitor encafifado, "foi isso mesmo o que eu entendi?", "Foi". "Ou talvez".<br /><br />Quanto à trama... aí achei meio sem graça. Bateu uma sensação similar àquela que tive quando da leitura de <a href="http://clarissahipertexto.blogspot.com/2009/12/complexo-de-portnoy.html">"Complexo de Portnoy", de Philip Roth</a>, de que certos temas podem ter sido surpreendentes trinta anos atrás, mas hoje, não escandalizam os 'mudernos'. Vide os aplausos para o filme "Do Começo ao Fim", de Aloizio Abranches. <br /><br />Mas não faz mal, fiquei com vontade de ler mais livros de Nassar só pelo modo como ele explora a língua portuguesa.ClarissaMachhttp://www.blogger.com/profile/13818882840125902672noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-6564208854173383064.post-76179796371443906182009-12-16T10:43:00.003-08:002010-01-04T11:23:05.587-08:0028. Decamerão<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj5Aznrek7bG1POCBWlt8MpNntcdlAXm-4D200L5sZu6JKfzhRoMzudSdPesiTsKXpiFSFrMLCEMmecwhKIBSs_WirNqoiqr14gbqE82RgbLp0-ERn4V9cLKT466WJGBvjYsRJyQX06h9I/s1600-h/800px-Waterhouse_decameron.jpg"><img style="display:block; margin:0px auto 10px; text-align:center;cursor:pointer; cursor:hand;width: 320px; height: 202px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj5Aznrek7bG1POCBWlt8MpNntcdlAXm-4D200L5sZu6JKfzhRoMzudSdPesiTsKXpiFSFrMLCEMmecwhKIBSs_WirNqoiqr14gbqE82RgbLp0-ERn4V9cLKT466WJGBvjYsRJyQX06h9I/s320/800px-Waterhouse_decameron.jpg" border="0" alt=""id="BLOGGER_PHOTO_ID_5418049336017681378" /></a><br /><br />Escrito entre 1348 e 1353 por Giovanni Bocaccio, o "Decamerão" é um conjunto de cem novelas sobre os mais variados temas da vida humana. A maior contribuição que me trouxe foi entender que o ser humano sempre foi o que é. Que certas coisas sempre existiram (pelo menos nos últimos setecentos anos) e provavelmente vão sempre existir, pois são fruto das paixões humanas, daquilo que não se pode controlar. <br /><br />Vamos começar pelo que considero até menos surpreendente, a questão da infidelidade, em particular, a feminina. Muitos episódios falam de damas supostamente virtuosas e esposas ditas honestas que realizam façanhas sexuais dignas de nota (o sétimo dia, aliás, reúne dez histórias inteiramente dedicadas às burlas cometidas pelas esposas contra seus maridos). <br /><br />Curiosamente, porém, este livro da Idade Média é bem menos moralista que muitos romances do século XIX e XX. Se em obras como Madame Bovary, Ana Karênina, o Primo Basílio ou Lady Chatterley's Lover as adúlteras têm sempre um quê de loucas, uma trajetória dramática ou um fim trágico, ou tudo isso junto, no Decamerão, a tônica é outra; elas desfrutam das delícias do amor sem remorso, entregam-se menos por um sentimento elevado de paixão que por desejos do ventre, mas no mais das vezes se dão bem no final. A coisa mais parecida com isso que já havia lido antes foi "Gabriela, cravo e canela", cuja protagonista, no entanto, não deixou de levar "uma surra de criar bicho" de seu Nacib, no fim das contas...<br /><br />Outros temas também hoje tabu no campo da sexualidade, como a zoofilia e a necrofilia, são o pano de fundo de algumas histórias, caso, respectivamente, da décima novela do nono dia (quando o padre Gianni diz que vai realizar o feitiço destinado a transmudar a esposa do cumpadre Pedro em égua) e da quarta novela do décimo dia (embora o tema seja a nobre generosidade do senhor Gentil dei Carisendi, que devolve a Niccoluccio Caccanimico sua esposa tida como morta, o fato é que ele havia descoberto que ela fora enterrada viva porque a havia retirado da sepultura para... "amá-la"). <br /><br />Na oitava novela do oitavo dia, após uma trama envolvendo dois casais vizinhos, cada um dos maridos fica com duas esposas, e cada esposa, com dois maridos; e na décima novela do quinto dia, o amante deixa a casa da mulher casada sem saber se durante toda a noite serviu a ela ou a seu marido, Pedro de Vinciolo, que não era muito chegado àquilo que gostam, ou devem gostar, os homens... parece até enredo daquelas histórias publicadas em revistas femininas de quinta (ou "semanais populares", no jargão dos marqueteiros) para espicaçar a imaginação de respeitáveis donas de casa. Mas não se vexem de ler o livro, que tudo isso, por incrível que pareça, é descrito com galhardia.<br /><br />Uma coisa curiosa que notei é que muitas piadas que circulam por email nos dias de hoje são histórias do Decamerão (sabe aquela em que a esposa vai atender a porta enrolada numa toalha de banho, vê que é o melhor amigo do marido e ouve dele a proposta "te dou cinco mil reais se deixar cair a toalha"? E depois de aceitar descobre que aquele dinheiro nada mais era que uma devolução do amigo ao marido? Pois é...). Fora autores de livros infantis que recontam novelas do Decamerão sem dizer a fonte... fico sem saber se por malícia ou ignorância mesmo.<br /><br />Acredito que esta obra reflete um momento de transformação na Idade Média, pois muitos dos relatos se opõem frontalmente à concepção religiosa que permeava o mundo de então. As novelas que debocham descaradamente das figuras de frades, bispos, freiras, padres, etc e das concepções misticistas daquela época são particularmente interessantes. Nota-se que homens lúcidos, como Boccacio, sempre existiram também.ClarissaMachhttp://www.blogger.com/profile/13818882840125902672noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6564208854173383064.post-73046787386145733502009-12-16T10:43:00.001-08:002009-12-22T11:12:32.013-08:0027. The collector<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjd84gHpSU1VyicciA8i4qykx9Ikrw-ze0VqgnO1hw1Zk9EZZUARcWLQwcWObhO7t1x5vWxtAws7PoJcdSys9-eF5vLX4fG06VuvTJWZGkJ90DC6M-60BWkHDfKtOJQsD6aCdSytiSGi0o/s1600-h/collector1.jpg"><img style="float:right; margin:0 0 10px 10px;cursor:pointer; cursor:hand;width: 195px; height: 200px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjd84gHpSU1VyicciA8i4qykx9Ikrw-ze0VqgnO1hw1Zk9EZZUARcWLQwcWObhO7t1x5vWxtAws7PoJcdSys9-eF5vLX4fG06VuvTJWZGkJ90DC6M-60BWkHDfKtOJQsD6aCdSytiSGi0o/s200/collector1.jpg" border="0" alt=""id="BLOGGER_PHOTO_ID_5418056088405237746" /></a><br />Do you know those books whose covers are so inexpressive that you don’t expect to find anything great within them? But then you go on and you find out they actually enshrine a treasure? This happened to me when I decided to turn the first pages of “The collector”. <br /><br />It’s not necessary to be an avid reader to finish it in a few hours. The author manages to tell a curious and electrifying story in an innovative style and using a few pages – the number could not be more appropriate. <br /><br />[A quick digression: I believe some books are shorter than they should be whereas others are longer than they should. Among the formers I place “The picture of Dorian Gray” and among the latter “The lord of the rings”].<br /><br />Back to the point: “The collector” describes the case of a maniac who manages to kidnap the woman he’s in love with (tough he doesn’t really know her). Actually, it’s not exactly a description, but a first person narrative, with the additional element that it is told from the point of view of the kidnapper and also of his victim.<br /><br />The maniac in case is particularly different from any other I had ever seen on TV shows, movies and books. He’s disgusting, of course, but in a different way; you don’t feel like hating him, you feel like despising him, just the way his victim does. But you surely will feel like despising the victim either.<br /><br />One of the most interesting moments happens when she encourages him to read “The catcher in the rye”. Due to her prejudicial and limited point of view, she believes that he’s going to identify himself with the young Holden Caulfield and that it is going to make all the difference for her… poor creature. His opinion over the book – he simply doesn't “see much point in it” – sounds hilarious.<br /><br />Please, don’t think that I don’t sympathize with the victim. Despite her “la-di-da voice” and snobbish ways she didn’t deserve to go through what she did. It is just that the whole story is so unreal that I don’t feel bad at involuntarily laughing at it. Maybe I'm still shocked with the end of the story.ClarissaMachhttp://www.blogger.com/profile/13818882840125902672noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6564208854173383064.post-55989149846920489512009-12-16T10:42:00.009-08:002009-12-23T08:58:28.264-08:0026. Le comte de Monte-CristoLe comte de Monte Cristo a été le premier livre que j'ai lu completement en français. Je peux dire que j'ai commencé a apprendre cette belle langue en lisant cette ouevre d'art. Cependant la lecture, j'écoutais l'audiobook (voyez le website www.librivox.org).<br /><br />Le mariage du style de Alexandre Dumas et de l'histoire d'Auguste Maquet a produit un de les mieux travails que j'ai connu dans la literatture ocidental. Un bon écrivain ne peut pas se considerer comme tell si il n'a pas lu cette ouevre.<br /><br />(Doit être continué...)ClarissaMachhttp://www.blogger.com/profile/13818882840125902672noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6564208854173383064.post-23796765796589409562009-12-16T10:42:00.007-08:002009-12-22T10:16:14.215-08:0025. Sargento GetúlioUma das minhas "falhas" de leitura, por assim dizer, é não ter lido muita coisa de João Ubaldo Ribeiro além de sua coluna no jornal "O Globo". Comecei a corrigir essa lacuna com a leitura do curtinho "Sargento Getúlio", e não me decepcionei.<br /><br />No início, confesso, até olhei de viés. Diante da linguagem marcadamente caboclo-sertaneja, pensei "ora, mas depois de 'Grande Sertão: Veredas', isso não é novidade". Ledo engano. Além de aprofundar a exploração desse recurso com bastante maestria, João Ubaldo consegue nos fazer entrar na cabeça do Sargento Getúlio, que nada mais é que um jagunço. <br /><br />Centrada num confuso monólogo, a história alterna momentos em que chegamos a fazer nossa a lógica do protagonista com outros de imediato desprezo por ele. Se num trecho nos vemos diante das gentes que pertencem a um mundo absolutamente distante do nosso, e por isso mesmo, curiso e interessante, noutro nos lembramos que, no fundo, nós queremos mesmo é distância dessas gentes e de suas realidades brutais.<br /><br />Um misto de afeição e repugnância, por assim dizer.<br /><br />O final conseguiu me surpreender.ClarissaMachhttp://www.blogger.com/profile/13818882840125902672noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6564208854173383064.post-14128865169876649312009-12-16T10:42:00.005-08:002010-01-08T06:34:41.233-08:0024. A Sombra do vento"A Sombra do vento" foi o único livro mais recente que li este ano. Escrito pelo espanhol Carlos Ruiz Zafón, é uma leitura fácil, fluida, que vendeu milhões de cópias em todo mundo. Tem muitos elementos típicos dos atuais best-sellers. Embora a temática seja absolutamente diversa, notei em muitos momentos uma identidade com o "O caçador de pipas", por exemplo, o que parece sugerir que alguns autores seguem um check-list na hora de escrever, uma fórmula que sabidamente faz o livro vender. <br /><br />Bem, eu poderia ficar citando um sem número de retrições, mas acho que até o Alexandre Dumas deve ter começado escrevendo coisas limitadas, então prefiro falar das surpresas boas. De tudo, o que me chamou mais a atenção foi a relação que o jovem Daniel Sempere estabelece com um livro de autor desconhecido e que vendeu pouquíssimos exemplares. <br /><br />Acho que mexeu comigo porque tenho um livro assim na minha vida. Chama-se "The night cometh". <br /> <br />É de um autor chamado Eugene O'Donnel, sobre quem já procurei informações, diversas vezes, na internet. Todas em vão*. Tudo o que encontrei, até hoje, foram duas referências em sebos londrinos. Dificulta a busca no google os fato de haver um livro de mesmo nome no mercado e uma celebridade com o mesmo nome do autor, um esportista ou coisa parecida.<br /> <br />Encontrei esse livro em um sebo, o único no bairro de Campo Grande, zona oeste da cidade do Rio de Janeiro (que, na época, nem livrarias tinha. Não sei como está a situação hoje). Comprei porque estava estudando inglês e os livros em língua estrangeira estavam custando um real somente. Era um livro velho, de bolso, com páginas amareladas e poeirentas e uma capa quase caindo. Meu domínio da língua na época era tão limitado que sequer compreendia o título. Tudo isso já vai dando um ar pitoresco à experiência.<br /> <br />O livro errou algum tempo na minha vida-estante, até que, cerca de dois ou três anos depois de comprá-lo, finalmente consegui lê-lo. Era o ano de 2006 e eu havia decidido ler um livro em inglês por mês para manter o conhecimento do idioma. Achei que seria só mais uma leitura. Estava enganada. Foi um dos livros mais chocantes e mais envolventes que já li.<br /> <br />Meu marido tem me incentivado a traduzi-lo. Talvez eu faça, mesmo que nunca venha a ser publicado. Só pelo simples prazer de poder manter viva a memória desse autor abandonado, como Daniel fez com Julián Carax.<br /><br />Bem, acho que no fim das contas falei mais do "The night cometh" que sobre "A Sombra do vento", mas afinal, não estou escrevendo orelha de livros, trata-se somente das minhas modestas impressões de leitura...<br /><br />*<strong>Post Scriptum</strong>/05/01/2010 - Eu não estava procurando direito... fuçando mais uma vez no google, eis que encontro um trecho de uma resenha do livro no site <a href="http://www.jstor.org/pss/40114994">http://www.jstor.org/pss/40114994</a> e também o livro à <a href="http://cgi.ebay.com/Berkely---The-Night-Cometh-by-Eugene-O'Donnell-(1960)_W0QQitemZ110476311493QQcmdZViewItemQQimsxZ20100103?IMSfp=TL100103004003r10885">venda no e-bay</a>;<br /><br /><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiSok6K6n64qgaxz1vQyxHa2vSMN7CupNMHAk1ZRZd-jQZfLBuvt0v2tTY5ghdw99JK830s8vHU7ncGuzlaJ342pFI-nu81rjTOfo0EzeCAxWDOD1JZr55TZiPBb5P1kNEJHbjT7YXyBqs/s1600-h/The+night+cometh.bmp"><img style="display:block; margin:0px auto 10px; text-align:center;cursor:pointer; cursor:hand;width: 283px; height: 204px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiSok6K6n64qgaxz1vQyxHa2vSMN7CupNMHAk1ZRZd-jQZfLBuvt0v2tTY5ghdw99JK830s8vHU7ncGuzlaJ342pFI-nu81rjTOfo0EzeCAxWDOD1JZr55TZiPBb5P1kNEJHbjT7YXyBqs/s400/The+night+cometh.bmp" border="0" alt=""id="BLOGGER_PHOTO_ID_5423257278938480242" /></a>ClarissaMachhttp://www.blogger.com/profile/13818882840125902672noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6564208854173383064.post-88309947272554051802009-12-16T10:42:00.003-08:002009-12-22T11:39:16.388-08:0023. The picture of Dorian GrayIt is not that I haven't liked the book. It is impossible not to recognize the idea is great. Who would not feel tempted to be forever young, not to suffer the effects of the passage of time, not to show in our faces the lines of our regrets? <br /><br />But I think an idea so good deserved much more lines. Wilde goes straight to the point, whereas I wish the story was developed into something longer. I missed further details on why Mr Gray turns into a persona non grata among decent people, especially decent women. Had the book been written by an author like Alexandre Dumas or Chordelos de Laclos, for instance, we might have had a whole description of his cruel adventures.<br /><br />I know, maybe I’m too Latina, but that’s the way I felt about it. I probably feel this way because I liked it so much that I could not accept it was so short. The end of the story is predictable, but one feels that it simply could not have ended in another way.ClarissaMachhttp://www.blogger.com/profile/13818882840125902672noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6564208854173383064.post-79052616295616820852009-12-16T10:42:00.001-08:002009-12-22T10:19:53.112-08:0022. Vargas: uma biografia políticaEu ainda vou ler uma biografia decente do Vargas. Esta, embora de autoria do Hélio Silva, deixou muito a desejar. Não pelo trabalho do Hélio em si, que é um historiador de inegável valor, mas pela própria proposta editorial.<br /><br />Trata-se de um pocket (pocket mesmo, do tipo que cabe no bolso traseiro da calça jeans com stretch) da L&PM de 184 páginas que é muito mais um conjunto de citações de Vargas vez por outra acompanhadas de breves comentários de Silva.<br /><br />"Sessenta por cento do subsídio selecionado não coube neste trabalho, sacrificado por aqueles imperativos editoriais", diz o autor no prefácio. Está tudo dito. É legal para o leitor dar um pontapé inicial no estudo da vida de Getúlio Vargas... ou melhor, não digo que seja o pontapé completo, digamos que corresponda a soerguer o dedão do pé para cogitar a hipótese de dar um pontapé... e só.<br /><br />Enfim, as editoras têm de ganhar dinheiro, senão o mercado de livros acaba.ClarissaMachhttp://www.blogger.com/profile/13818882840125902672noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6564208854173383064.post-49608814851188525282009-12-16T10:41:00.002-08:002009-12-23T09:30:22.480-08:0021. Les souffrances du jeune WertherJ'avais lu une version en portugais cinq ans avant. En verité, je n'avais pas aimé la lecture à cette occasion et la même chose a lieu cette fois. <br /><br />Je ne veux pas être rude, mais est que je ne peux pas comprendre porquoi ce livre a fait tant de bruit. Peut-être un jour je vais lire ce roman encore en allemand et qui sait je vais l'aimer alors?<br /><br /><em>[Ce texte a été revisé par mon ami et professeur Antony Devalle.]</em>ClarissaMachhttp://www.blogger.com/profile/13818882840125902672noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6564208854173383064.post-78684579828966041522009-12-16T10:41:00.001-08:002009-12-23T09:01:45.821-08:0020. The Prestes ColumnThe first thing I must say is that my opinion is highly suspicious over this theme. The fact is that I'm a great admirer of Luiz Carlos Prestes and despite myself I can help being biased towards him. I prefer being honest about this point so that you, reader, feel comfortable to search for more information over this issue elsewhere.<br /><br />This is especially important because the Prestes Column is a polemic chapter in Brazilian history. Some argue it was pointless and caused a great damage along the cities it went through. The latter probably is true – all wars always have unwanted effects that usually make innocents suffer. Imagine 1500 men, most of them with no formal neither military education, hunted like animals within the primitive countryside of Brazil? Unfortunately, rapes, thefts and murders happened despite all the efforts of the column commanders to avoid it. <br /><br />About the former, I am not so sure. According to the author of the book, Neill Macaulay – who (later on it was discovered) was a spy - the objective of the column was never the impossible military victory (what a bunch of barely armed men could do against the government forces?), but to work in a symbolic way, to function as an example of political resistance. In this regard, it worked and works until today, since it's one of the few social movements in Brazil that might be considered national (i.e., that involved the whole country, from North to South, in comparison with restricted, regional movements) and that so far is capable of touching people's heart. <br /><br />Probably this resistance of the myth around the Prestes Column and it's main leader is the reason why so many people enjoy degrading their significance. Some of these try to attribute the crimes of the column's soldiers to its captain, but finds an obstacle in the conduct of Luiz Carlos Prestes along his 92 years of existence. Of course the man was not a saint, he was not the perfect hero Jorge Amado described in his books, but one cannot deny that he was an incorruptible and idealistic sort of man. <br /><br />In Macaulay's book, it is said that Luiz Carlos Prestes once affirmed that “the man who seduced a virgin should be shot”. Considering he was a chaste man (he lost his virginity at 37 and had only two women along his whole life), who respected a lot the other sex, I guess he meant it. He was also an honest man who never used politics to gain personal favours (he died without having ever had a “cpf” - document equivalent to the social security number - neither a bank account). This is probably the main reason why so many people respect him despite his unsuccessful attempts to undertake a social revolution in Brazil.ClarissaMachhttp://www.blogger.com/profile/13818882840125902672noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6564208854173383064.post-1196363377645323072009-12-16T10:40:00.003-08:002009-12-23T09:30:51.146-08:0019. L’étrangerJ'avais lu une version en portugais de « L'étranger » trois ans avant, raison pour laquelle je ne pense pas que ce livre a été le premier que j'ai lu en cette belle langue latine (cette place appartient à « Le comte de Monte Cristo ») . Tous les mots que je vais ecrire ici sur l'oeuvre certainement sont le resultat des choses que j'avais connu dans la première lecture. <br /><br />Je pense que L'étranger est un piège d'Albert Camus. L'écrivain nous fait voir le monde dans l'avis du protagonist, Mersault; l'histoire est conté de façon que on peut penser que son jugement n'a pas été fait de manière juste parce que il paraît être condamné moins pour l'assassinat qu'il a commit que pour le fait que il n'a pas pleuré dans l'enterrement de sa mère. <br /><br />En verité, malgré-nous nous sommes conduit a penser moins sur l'arabe qui est tué de façon lâche que dans sa mère abandonée dans l’asile de vieillards, et qui meurt sans reçoit une seule larme de son fils. Ou encore pire: nous sommes conduits a penser sur le condamné à guillotine comme une victime du systeme, une espèce de Franz K. C'est comme se nous nous oublions qu'il a tué un homme froidement, sans raison aucune.<br /><br /><em>[Ce texte a été revisé par mon ami et professeur Antony Devalle.]</em>ClarissaMachhttp://www.blogger.com/profile/13818882840125902672noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6564208854173383064.post-80995583032922501922009-12-16T10:40:00.001-08:002012-08-06T10:20:06.579-07:0018. As Barbas do imperador Dom Pedro II: um monarca dos trópicosO trabalho não é exatamente uma biografia; trata-se, na verdade, de uma análise dos usos da figura do imperador D. Pedro II desde a sua aclamação, aos 15 anos incompletos, até o retorno de seu corpo ao Brasil, durante o governo Vargas. <br /><br />A leitura serviu para refrescar na memória alguns fatos da segunda metade do século XIX no Brasil; para ratificar a ideia, já entrincheirada no meu entendimento por conta de outras leituras, de que a proclamação da República no Brasil foi um movimento fajuto, sem legitimidade social ampla; e para confirmar que o conceito que eu trazia dos tempos de escola sobre a figura dos monarcas, particularmente dos monarcas absolutistas, era um tanto equivocada.<br /><br />Como nos adverte Hobsbawm, quando fala da fase das transições pelas quais passava a Europa em fins do século XVIII e as tentativas de alguns monarcas de fazer reformas para não viver revoluções, o suposto poder ilimitado dos absolutistas era relativo e enfrentava sérios obstáculos à realização das referidas reformas: <br /><br />"Yet in fact absolute monarchy, however modernist and innovatory, found it impossible - and indeed showed few signs of wanting – to break loose from the hierarchy of landed nobles to which, after all, it belonged, whose values it symbolized and incorporated, and on whose support it largely depended. Absolute monarchy, however theoretically free to do whatever it liked, in practice belonged to the world which the enlightenment had baptized fiodaliti or feudalism, a term later popularized by the French Revolution. (...) its horizons were those of its history, its function and its class. It hardly ever wanted, and was never able to achieve, the root-and-branch social and economic transformation which the progress of the economy required and the rising social groups called for.<br /><br />To take an obvious example. Few rational thinkers, even among the advisers of princes, seriously doubted the need to abolish serfdom and the surviving bonds of feudal peasant dependence. Such a reform was recognized as one of the primary points of any 'enlightened' programme, and there was virtually no prince from Madrid to St Petersburg and from Naples to Stockholm who did not, at one time or another in the quarter-century preceding the French Revolution, subscribe to such a programme. Yet in fact the only peasant liberations which took place from above before 1789 were in small and untypical states like Denmark and Savoy, and on the personal estates of some other princes. (...) What did abolish agrarian feudal relations all over Western and Central Europe was the French Revolution, by direct action, reaction or example, and the revolution of 1848"*.<br /><br />Esse quadro, em muitos aspectos, se assemelha ao que viveria o Brasil cem anos depois, no sentido de que D. Pedro II, uma vez isolado das forças políticas de então, foi facilmente derrubado do poder. A grande diferença é que o nosso “89” (Proclamação da República no Brasil 1889 x Revolução Francesa 1789) teria um caráter reacionário. A destituição e exílio do imperador brasileiro foi resultado muito mais de uma reação (retaliação talvez seja a palavra exata) da classe dominante agrário-exportadora por conta da abolição da escravatura em 1888, do que propriamente um movimento político impulsionado por classes emergentes. <br /><br />Enfim, é uma leitura boa, eu recomendo aos interessados no tema. Não se intimidem com as 580 páginas, tem muita gravura [risos]. <br /><br />*Referência: The age of Revolution, p. 23-24<br /><br /><strong>Post Scriptum:</strong>/08/01/2010. Lendo "A Alma Encantadora das Ruas", reunião de crônicas de João do Rio, achei um trecho que cairia como uma luva no livro para ilustrar a relação do povo com a aura da monarquia. Na crônica "Velhos cocheiros", o cocheiro Braga assim responde quando idagado pelo jornalista acerca de sua opinião sobre a Monarquia e a República: <br /><br />"A Monarquia tinha as suas vantagens. <em>Era mais bonito, era mais solene</em>. Não vá talvez pensar que eu sou inimigo da República. <em>Mas recorde por exemplo um dia de audiência pública do imperador. Que bonito!</em> Até era um garbo levar os fregueses lá. Ó Braga, onde estiveste? Fui à Boa Vista! Hoje todo o mundo entra no palácio do Catete. Não tem importância... É verdade que o Obá entrava no Paço. Mas era príncipe. E então para conhecer homens importantes! Não precisava saber-lhes o nome. <em>Os ministros tinham uma farda bonita, o imperador saía de papo de tucano. Bom tempo aquele!</em> Hoje a gente tem de suar para conhecer um ministro. Parecem-se todos com os outros homens."ClarissaMachhttp://www.blogger.com/profile/13818882840125902672noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6564208854173383064.post-76679337510404661852009-12-16T10:39:00.002-08:002009-12-28T06:42:06.132-08:0017. Formação econômica do Brasil"Formação econômica do Brasil" é uma dessas leituras obrigatórias para o brasileiro pensante que quer entender o país. <br /><br />É claro que, ao longo das cinco décadas que nos separam da publicação desse trabalho, muitas das teorias de Celso Furtado tornaram-se defasadas ou foram contestadas (processo previsível e salutar, até porque, ele trabalhou com dados hoje superados). <br /><br />Mas Furtado tem o mérito de ter endereçado velhas questões de desenvolvimento da economia nacional com ideias arrojadas; pode ter errado em algumas análises e projeções, mas errou porque tentou, porque ousou pensar diferente; e da crítica às suas concepções supostamente equivocadas, muito conhecimento se produziu - até os seus enganos foram férteis para o entendimento do Brasil.<br /><br />Demais, eu gostei do estilo como o trabalho foi escrito. Os primeiros capítulos dão a sensação de que estamos lendo uma narrativa e não um compêndio de economia. Furtado tem um quê na escrita que me lembra Hobsbawm, ambos são estudiosos que se debruçam sobre temas muitas vezes espinhosos mas escrevem com uma bossa e uma clareza capazes de atrair os não iniciados no assunto (como é o meu caso). Sabem alternar a informação bruta e o "causo" interessante.<br /><br />Foi um tempo de leitura muito bem empregado, investimento pingue de retornos. Até meu modo de escrever sofreu influências furtadianas... passados cinquenta anos, muitas das expressões que ele utiliza tomaram um ar de "tempo do onça"; ou, no dizer dos moderninhos, um ar "vintage", que, no entanto, é do meu agrado.ClarissaMachhttp://www.blogger.com/profile/13818882840125902672noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6564208854173383064.post-45931835116508072262009-12-16T10:39:00.001-08:002009-12-22T09:32:29.835-08:0016. Cadeia produtiva do carnaval cariocaClarissaMachhttp://www.blogger.com/profile/13818882840125902672noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6564208854173383064.post-70515574966027458942009-12-12T05:18:00.000-08:002009-12-22T09:32:11.465-08:0015. Complexo de PortnoyDo mesmo autor de "O Animal Agonizante", o livro parece a conversa (na verdade, o monólogo) entre um homem atormentado (com o quê exatamente, eu não sei dizer...) e um possível analista. <br /><br />Falando de si para um interlocutor que só se apresenta no fim do livro (muito parecido com o que Roth volta a fazer em "Animal Agonizante"...), sempre chamado de Doutor, o narrador parece atribuir todas as dificuldades de sua existência à rígida educação em família, de origem judia, com direito a mãe castradora e pai submisso.<br /><br />Fiquei com a sensação de que o livro é meio datado, principalmente quando começam a ser reveladas algumas das infaustas peripécias sexuais de Portnoy... são coisas que trinta, quarenta anos atrás (quando o livro foi lançado) talvez tivessem chocado ou espicaçado os ânimos dos mais ingênuos. Mas hoje, quando já vimos de tudo na TV e na internet, não causa surpresa ou escândalo a ninguém.ClarissaMachhttp://www.blogger.com/profile/13818882840125902672noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6564208854173383064.post-72233359342854311272009-12-10T11:13:00.000-08:002009-12-23T06:35:56.344-08:0014. Marechal Deodoro, biografiaNão que eu tivesse algum interesse em particular na figura de Deodoro. Tampouco posso dizer que a leitura desta biografia, da mesma coleção daquela de José Bonifácio citada em outro tópico, tenha contribuído para despertar minha admiração por este veterano da Guerra do Paraguai. O fato é que estava naquela de reestudar a história do Brasil pelas biografias.<br /><br />A impressão que ficou é que Deodoro, coitado, é uma figura meio apatetada da história... a leitura da biografia de José Bonifácio me deixou, involuntariamente, a impressão de que é uma grande tolice comemorar o sete de setembro; a de Deodoro fez o mesmo com o quinze de novembro. <br /><br />Sei que soa como heresia para muitos, mas sinto que a República, no Brasil, pelo menos durante as quatro décadas seguintes à sua proclamação, não representou nem de longe uma transformação social. A mesma classe dominante que se valia da figura do imperador para fazer atender a seus interesses permaneceu no poder, agora fazendo uso da figura do presidente da República.<br /><br />A sensação que fiquei é que o movimento de novembro de 1889 e consequente exílio de Dom Pedro II (de quem Deodoro era fiel servidor até então!!! ) foram muito mais uma retaliação à abolição da escravatura em maio de 1888 que qualquer outra coisa.<br /><br />Se o Imperador D. Pedro II foi menos um estadista e mais uma figura decorativa e simbólica (o que ficaria ainda mais claro para mim após a leitura, ainda este ano, de "As barbas do imperador D. Pedro II, um monarca dos trópicos"), o mesmo pode ser dito de Deodoro. Se na capa do livro sua imagem em barbas brancas sugere respeito, o conteúdo parece indicar que foi uma figura carismática muito bem manobrada, um fantoche simpático, por assim dizer...ClarissaMachhttp://www.blogger.com/profile/13818882840125902672noreply@blogger.com0